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Padre católico será pai pela segunda vez, em Belém

Lúcio Flávio Pinto - 31/01/2016

O caso do padre Geffison (ou Jeffison) Silva, de 32 anos, é muito fácil de resolver. Ou a Igreja Católica Apostólica Romana deixa de exigir o voto de castidade dos seus religiosos, ou o jovem padre tem que ser expulso. Ele se envolveu sexualmente com pelo menos duas jovens, que frequentavam suas celebrações na basílica de Nazaré, em Belém. Teve filho - agora com nove anos - com uma e a outra está grávida.

Não há dúvida: ele violou – unilateralmente e de forma grave – o contrato celebrado com a Igreja. A dissolução se impõe. E a forma de promovê-la é expulsando o padre. Pode ser uma solução drástica, mas não há outra. Talvez seja o melhor caminho para o próprio padre: livre da proibição, ele poderá seguir normalmente a sua vida, como um leigo ou, se rompidos todos os vínculos atuais, um cidadão de bem.

Ao assumir o sacerdócio, ele sabia que só podia continuar no seu ofício como virgem. É uma condição anacrônica, absurda e anti-humana, mas é a regra imposta pelo Vaticano, que, talvez agora, o papa Francisco, tome a decisão de extinguir, atualizando a sua organização aos tempos atuais.

Mas a proibição é regra de ouro do vínculo. Outros padres, no passado, com tão boa imagem e presença, jovens e inteligentes, aqui mesmo em Belém, resistiram ao assédio das mulheres que os perseguiam. Quando desistiram do voto de castidade, deixaram a batina de lado (com a aprovação de Roma, por se tratar de recurso regular), se lançaram à vida civil, casaram, alguns tiveram filhos (outros não), mas mantiveram sua integridade e honestidade. Vários deles, meus amigos, ainda estão vivos. Conheço bem a vida deles e posso dizer o que escrevo aqui.

Apenas um, já cônego, foi causa de um escândalo. Ele simplesmente se casou, inclusive civilmente, mantendo as ordens. Mas foi vítima de aproveitadores, dentre os vários de que cuidou e manteve. Já estava sem o domínio da sua vontade e até da percepção do mundo. A santa madre o excomungou em silêncio. E não cito o seu nome em respeito à sua memória, violada por esse golpe audacioso, do qual já não mais podia se defender.

A tentação é hoje muito maior. Há religiosos que são verdadeiros astros da indústria do entretenimento. Não é só o voto de castidade que está em risco, mas também o de pobreza, além da humildade e recato. Vê-se um padre rodando pela cidade em carro de luxo, devidamente paramentado não para o ato litúrgico, mas provavelmente para eventos sociais de outra natureza.

A Igreja não pode fazer como fizeram os barnabitas, acolitados por O Liberal, metido a fervor religioso: ou esconder o fato ou suprimir tudo,.iIcidinram em outra ruptura contratual: com c verdade, que clama aos céus e é valiosa aos pobres mortais neste vale de lágrimas.

Todos farão o bem comum antes de julgar e sentenciar o padre, ou inocentá-lo de uma responsabilidade a que ele não podia renunciar unilateralmente, além de ocultá-la dos demais, indo ao velho e precioso Dicionário Caldas Aulete, o meu favorito no vernáculo pátrio, anotando os verbetes respectivos à castidade para não ter dúvida.

Ao invés de ser mandado para o limbo, o inferno ou o céu, o jovem religioso devia assumir seus atos e recomeçar sua vida sem as ameaças do pecado nem o peso da consciência, que hoje o acusa. A verdade, vital em qualquer circunstância, agradeceria.




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