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Aumento da temperatura da água durante vazante acentuada altera metabolismo do pescado e provoca mortandade, dizem especialistas

Portal OESTADONET - 16/11/2023

 

O registro mais recente de morte em grande escala de peixes nos rios da região voltou a preocupar as comunidades pesqueiras e as autoridades ambientais do município de Santarém, no oeste do Pará. Nesta quarta-feira (15), moradores da comunidade Uruari, na região do Lago Grande, registraram milhares de espécies mortas em um lago. Imagens compartilhadas nas redes sociais impressionaram pela quantidade de peixes boiando na superfície. 

 

 

 

 

Este ano, no período mais crítico da estiagem, na região do Baixo Amazonas já houve registro de mortes de peixes nos municípios de Óbidos, Alenquer, Prainha, Juruti e Santarém. A crise hídrica que assola a região tem impactado diretamente o setor pesqueiro. A morte de milhares de peixes acentua ainda mais o drama de quem depende da pesca artesanal. Em muitas comunidades, a pesca é a principal atividade econômica e única fonte de alimento das famílias ribeirinhas.

 

O professor Frank Raynner Vasconcelos Ribeiro, pesquisador da Coleção Ictiológica do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), tem acompanhado essa situação e explica que a morte dos peixes em grande escala é resultado da qualidade da água. “Muitas espécies de peixes não estão adaptadas para as condições ambientais que o período atípico as submete. Além disso, o aumento da temperatura da água, por exemplo, também provoca alterações metabólicas e mesmo comportamentais, que exigem maior demanda de oxigênio, que está disponível em menores concentrações devido à baixa do nível dos rios”, explicou ao Portal OESTADONET.

 

Segundo ele, não dá pra estimar um quantitativo de espécies mortas, pois muitos eventos ocorrem em diferentes ambientes aquáticos da Bacia Amazônica. “Da mesma forma, não temos mecanismos que possibilitem prever os impactos futuros nos estoques naturais de peixes na bacia”, completou o professor.

 

O especialista diz ainda que os indicadores apontam que a vazante está acabando, mas os reflexos negativos serão sentidos pelos próximos meses ainda. “Provavelmente teremos impactos negativos nas populações das espécies que tiveram grandes perdas quantitativas. Em ambientes de água parada, os riscos de contaminação são maiores do que aqueles com fluxo de água, visto a grande quantidade de matéria orgânica retida no ambiente”, observa.

 

Segundo ele, a proliferação de bactérias, fungos e vírus ocorre devido à matéria orgânica disponível no ambiente aquático. Por isso é importante evitar se alimentar dessas espécies. 

 

O professor recomenda ainda que seja realizada uma análise criteriosa de qualidade da água para o consumo humano e que os peixes mortos não sejam consumidos pelas pessoas de jeito nenhum. “Muitos desses organismos precisam de oxigênio para realizarem seu metabolismo. Assim, a proliferação desses organismos não se dá pela falta de oxigênio, mas sim da matéria orgânica disponível para a decomposição no ambiente aquático”, explicou.

 

O biólogo Sidcley Matos também falou sobre a morte de animais de vida aquática em grande escala. Para ele, essa mortandade sem precedente é resultado de um conjunto de situações, como a seca histórica, o volume baixo de água nos lagos, as altas temperaturas, além do acúmulo de matéria orgânica e falta de oxigênio. Segundo o especialista, esse cenário ainda pode piorar com as primeiras chuvas previstas para os próximos meses. “Devido as queimadas, as fuligens suspensas no ar (fumaça). Tudo isso vai para os rios, provocando mais problemas ambientais. Mas é complicado tentar prevê alguma coisa com tantas mudanças climáticas. Mas pelo que estamos acompanhando, o cenário não é favorável”, afirmou.

 

Sidcley Matos afirma ainda que é preciso mudar o comportamento de todos em relação à preservação do meio ambiente e investir mais na educação ambiental como forma de cuidados futuros para evitar o que estamos presenciando este ano com esta estiagem que já é considerada a pior dos últimos anos. “Temos que mudar nosso comportamento já! Plantar árvores, diminuir a degradação, conscientizar a população. Tudo vem da educação básica com o envolvimento da família, da escola e do governo”, concluiu.




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