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Gal

Lúcio Flávio Pinto - 09/11/2022

Este é um dos mais belos discos da música brasileira. Foi lançado em 1967. Comprei-o no dia mesmo em que foi para a venda, no Rio de Janeiro. Levei-o para casa e o ouvi o dia inteiro. Fui ouvi-lo mais uma vez (enésima?) agora, assim que soube da morte de Gal Costa. É um disco clássico, melancólico e profundo, soando como se fosse avarandado, se embalando sem pressa, sem destino certo, conforme diz uma das composições.

 

O nome de Gal vem primeiro na capa. Depois, o de Caetano, com nome e sobrenome, em letras psicodélicas, como se dizia. É um dos duetos memoráveis. Músicas para se ouvir nas tristes tardes de domingo, para curti-las sem mediação da química do desespero. Sentindo a leveza da voz de Maria da Graça, afinadíssima, simples, linda. Já nos conhecíamos e nos conheceríamos mais sob o momento seguinte, do Tropicalismo. Gal e Caetano, como Torquato Neto, parceiro de algumas das composições, que se suicidaria em 1972, já nos anos de chumbo, aos 28 anos.

 

Por muitas e constantes horas ouvi Gal cantar, ela e eu, numa sintonia total, como duas pessoas íntimas. Sua voz ressoa agora como eco doce de um momento essencial da nossa vida, entre a confiança e o desespero, a esperança e a desilusão, a coragem e o medo. Gal se foi como ser vivo, mas sua voz continua comigo. Obrigado, Gracinha.




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