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Quilombolas aumentam renda com produtos não-madeireiros, preservam a floresta e melhoram a merenda escolar

Portal OESTADONET, com informações de Daniela Chiaretti/Valor - 08/09/2022

Aldo Pita: “Copaibeira é como banco: com boas práticas, sempre dará dinheiro” - Créditos: Kevin Gonzáles / Valor

Reportagem assinada pela jornalsta Daniela Chiaretti para o jornal Valor destaca a atuação de comunidades quilombolas da Calha Norte do rio Amazonas para aumentar renda das famílias com produtos não-madeireiros, com preservação do meio ambiente e melhoria na alimentação escolar. Para assinantes a íntegra da matéria AQUI.

 

 

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Comunidade quilombola de Aracuã de Baixo, no rio Trombetas: instalação de agroindústria para produzir pão e sucos, melhorar a merenda escolar e gerar renda — Foto: Pedro Alcântara - M’bóia LAB

 

 

As principais informações estão resumidas a seguir:

 

Oriximiná é um dos maiores municípios do país e um canto do paraíso na Terra. Na margem esquerda do Amazonas, ao longo do belo rio Trombetas e seus afluentes, vivem nove mil a dez mil quilombolas em 37 comunidades. São descendentes de escravos que fugiram dos maus-tratos nas lavouras de cacau de Óbidos e Santarém a partir da segunda metade do século 18. Foram entrando na mata densa e por ali ficaram. Oriximiná é o berço do movimento quilombola do Brasil. A primeira titulação de terras coletivas -os territórios quilombolas- ocorreu nesta região.

 

Agora os quilombolas que vivem espalhados em 27 milhões de hectares, na região conhecida por Calha Norte, procuram ter renda de produtos florestais não madeireiros como o cumaru, a andiroba, a castanha e a copaíba, ao mesmo tempo em que garantem a floresta preservada. O mesmo caminho vem sendo percorrido por assentados rurais e povos indígenas como os waiwai, que plantam, cultivam e colhem um mix de pimentas, por exemplo. Todos escoam os produtos através da Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte, a Coopaflora. É um exemplo de bioeconomia que prospera na Amazônia.

 

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A semente de uma árvore grande conhecida por cumaru é o item de maior valor da cesta da sociobiodiversidade que existe hoje na região. Em cada fruto, uma só semente. Secas ao Sol e comercializadas pela Coopaflora rendem R$ 50,00 o quilo para os extrativista - ou R$ 25,00 o quilo da semente verde. Em 2021, mais de 200 extrativistas se beneficiaram com a venda das sementinhas negras apelidadas de “baunilha da Amazônia”. Os maiores produtores são assentados do Projeto de Desenvolvimento Sustentável de Paraíso, no município de Alenquer. Em 2022, a produção terá boa participação de quilombolas e indígenas.

 

A empresa inglesa de cosméticos Lush é uma grande compradora do cumaru da região. Entre 2017 e 2021, foram vendidas à Lush mais de 26,6 toneladas de sementes secas de cumaru, movimentando quase R$ 1,5 milhão.

 

A copaíba, por sua vez, beneficiou outros 108 extrativistas. O valor da venda pela cooperativa vem crescendo - R$ 55,6 mil em 2020 e R$ 191 mil em 2021. É uma atividade muito forte nas comunidades do Alto Trombetas, onde mora o instrutor quilombola Aldo Souza Pita, que está em Jarauacá para treinar os interessados em extrair o óleo que ajuda na cicatrização e age como anti-inflamatório, além de outras propriedades. “Onde vivo, cada árvore de copaíba tem uma placa com um número e a data da última extração”, diz Aldo Pita a quem o escuta no galpão onde está acontecendo a capacitação. É um quilombola falando a outros, uma troca de tecnologias de manejo da floresta e conhecimentos tradicionais.

 

A venda de castanha beneficiou 283 pessoas na última safra e saltou de R$ 245 mil comercializados em 2020 para R$ 645 mil em 2022. Na época da safra, famílias vão aos castanhais, montam acampamentos e ficam por lá meses. Tem ainda a andiroba, um repelente natural que ajuda na dor de garganta e o mix de pimentas assîssî, que são plantadas, colhidas e beneficiadas por mulheres do povo waiwai.

 

“Sou nascido e criado em Oriximiná. Para mim, a floresta só tem valor se estiver em pé”, diz o técnico florestal comunitário. “Estou aqui para trazer boas práticas na extração de copaíba”, segue Aldo Pita mostrando o instrumento usado para furar a árvore e o recipiente onde se guarda a resina. Ele deixa claro que é preciso tampar o furo depois, para que a copaíba possa se refazer. “A copaibeira é como um banco. Se trabalharmos com boas práticas sempre vai ter algum dinheiro ali”, diz ele. “Não é para furar baixinho no tronco, ou se mata a árvore”, ensina. Jovens da comunidade o escutam com atenção.

 

Nas quatro grandes áreas quilombolas de Oriximiná foram erguidas quatro agroindústrias.

 

Na comunidade de Aracuã de Baixo, no rio Trombetas, a agroindústria é toda branca, tem painéis solares e ali já assam pães enriquecidos com farinha de castanha para as crianças.




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