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Brasil: O outro país

Lúcio Flávio Pinto - 26/02/2021

Macapá dista 1.054 quilômetros de Manaus em linha reta. É mais do que os 935 quilômetros entre Brasília e o Rio de Janeiro, trecho muito usados pelos poderosos da capital federal do país. Para o ministério da Saúde, com seu distanciado planejamento central, não faz diferença; Uma carga de vacinas destinada a Manaus, que tem o mais grave surto de coronavírus no momento, foi mandada para Macapá, onde o problema é muito menor, sem deixar de ser grave. As vacinas tiveram que ser reenviadas Mas e daí?

 

O Brasil é muito longe da Amazônia. Durante a maior parte da história de ambos, a Amazônia foi um território autônomo, desconhecido e desinteressante. É difícil sentir em Brasília ou em São Paulo a intensidade dos dramas que a população amazônica costuma enfrentar. Como os 100 mil habitantes de 15 municípios do Acre agora. Boa parte das sedes desses municípios está alagada. O transbordamento resulta da subida dos rios, que atingiram o nível mais alto já registrado. Em grande parte, por culpa das chuvas mais intensas nas cabeceiras e no seu curso do que as médias anuais até hoje.

 

O que complica ainda mais a situação é que a chuva pode parar, mas o efeito demorará a ser sentido. A inundação não se deve ao efeito da maré, como no litoral, onde está a maior concentração dos moradores mais ricos e poderosos. Os rios amazônicos sobem durante metade do ano e vazam na outra metade. Logo, a previsão de cheias tem que ser muito boa. E também as medidas de antecipação dos seus efeitos.

 

Parece que nem uma coisa nem outra funcionaram a contento. As imagens de Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, por exemplo, são de cortar o coração e fazer chorar quem conhece e ama o Acre, como eu. Os acreanos estão perdendo suas casas e sofrendo com as águas grandes, enquanto a covid-19 avança e a dengue também. Cada novo dia será como uma vida inteira de sofrimento e privação.

 

O ministro da Saúde é um general da ativa do exército, tido por expert em logística. Ele poderia estar no Acre, devidamente fardado, comandando uma tropa para montar acampamentos para os desabrigados, arranjar comisa, água e remédios para eles, impor ordem unida e emergência para poupar esses brasileiros esquecidos e ignorados do seu padecimento.

 

Mas a Amazônia fica muito longe. Inclusive do coração e da mente dos que dirigem o país mais ´próximo chamado Brasil.




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