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Boechat

Lúcio Flávio Pinto - 11/02/2019

O melhor do jornalismo é ser efêmero, desde que o jornalista seja apaixonado pelas coisas transitórias da vida. Obrigando quem o pratica com paixão a testemunhar os acontecimentos do cotidiano, o jornalismo é a profissão que mais vidas possibilita viver. Como se diz (sempre melhor) em latim: sic transit gloria mundi. Num dia, ao lado do presidente da república. No outro, no meio da lama com os bombeiros à procura de cadáveres despedaçados. Ao final de todas as vividas vividas, poder declarar: meninos, eu vi.

 

Ricardo Boechat, que morreu hoje, num acidente de helicóptero, em São Paulo, aos 66 anos, nunca foi um repórter de linha de frente, com tantas vidas vividas realmente. Mas foi um apaixonado pelos acontecimentos em carne e osso, com nome e sobrenome. De um telefone, num encontro agendado ou transitando por algum cenário, suas orelhas (talvez não por acaso bastante grandes) estavam antenadas a palavras, frases, murmúrios que pudessem ser transformadas em informação.

 

Não era um mero registrador de dados. Era um meticuloso, espirituoso, irônico e crítico de tudo que lhe chegava. Tinha estilo e aprumo para processar coisas originais, inusitadas, folclóricas ou relevantes com seu molho particular, uma combinação de conhecimento, experiência e picardia que confere a um grupo muito reduzido de profissionais da imprensa imprimir sua marca pessoal.

 

É claro que com tantos informantes e tanta circulação, ele pagava o preço por toda essa desenvoltura. Pagou caro no episódio de partilha de informação privilegiada que lhe acarretou a demissão sumária da Globo. Ele remiu o que tinha que reparar, deu a volta por cima e voltou ao topo do jornalismo por outras vias. Controverso e polêmico, mas único. Não haverá outro Ricardo Boechat no jornalismo brasileiro.





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