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Círio 100: herdada de seu fundador, Santarém mantém firme a devoção em sua padroeira

Weldon Luciano. Fotos: Acervo ICBS - 23/11/2018

Círio década de 1960. Foto: João Mota PB -

Quando João Felipe Bettedrof foi encaminhado para a foz do rio Tapajós com o objetivo de fundar um aldeamento no ano de 1661, dedicou-se à catequese dos indígenas, mantendo boas relações com os chefes tribais locais, de acordo com as orientações da Companhia de Jesus. O jesuíta trouxe consigo fé cristã e a devoção à Nossa Senhora da Conceição, herdada pelos futuros moradores do que viria a ser Santarém, mantendo-se firme entre os católicos da cidade até a atualidade.

 

Segundo padre Sidney Canto, que é especialista em história da Amazônia, a figura do fundador da cidade é decisiva para que a manifestação de fé a padroeira se mantivesse viva até os dias atuais. Em seu blog, padre Sidney realiza diversas publicações que ajudam a manter viva a história da cidade e do Círio. Segundo ele, a primeira festa que se tem notícia foi realizada em 8 de dezembro de 1661. “No mesmo ano em que fundou a missão, que é o marco original da cidade de Santarém, foi também celebrada a primeira festa da padroeira. Aqui ele ergueu a primeira capela dedicada a Nossa Senhora”.

 


Círio de 2016. Foto: Ronaldo Ferreira

 

Antes do Círio, a festa já existia e era composta pelo novenário que iniciava no dia 28 de novembro e no dia 8 realizava-se a festa.  Em 1698, há registros de procissões coordenadas pelo padre italiano João Maria Gorzoni, também jesuíta, ao redor da aldeia, onde hoje fica a praça Rodrigues dos Santos, na área central de Santarém.

 


Círio de 1931

 

Em 1758, o então governador do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, elevou a Aldeia do Tapajós à categoria de vila, dando-lhe o nome de Santarém. Além de lançar a pedra fundamental para a construção do prédio da atual Catedral, a cidade também foi presenteada com uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que permanece até hoje na catedral. Ela foi utilizada pela primeira vez no Círio no ano de 1931.

 

Durante alguns anos, ainda no século XIX, a festividade ficou sob a responsabilidade de uma confraria chamada de Confraria de Nossa Senhora da Conceição, que organizava os círios da bandeira. “A festa não era realizada pela paróquia. Cabia ao pároco somente a celebração da missa da festa, inclusive fazia os batismos e casamentos realizados durante o período, mas quem promovia a festa era a confraria. Esses Círios, não tinham a estrutura do atual, eram feitos por um estandarte com a pintura da imagem que representava esta confraria e era seguido de bandas músicas”.

 

Cirio 1960

 

Após a festa de 1918, Dom Amando Balhaman nomeou o vigário da catedral à época para que ele instituísse uma diretoria que pudesse tomar conta festa. Ela substituiria a confraria e aí que a então prelazia de Santarém assumiria a coordenação que passou a ser atrelada a hierarquia da igreja. “O Pároco nomeava uma comissão que era aprovada pelo Bispo e essa comissão começou a fazer a festa. Como o marco inicial desta mudança, temos o ano de 1919, quando deixou-se fazer o Círio da Bandeira e passamos a ter transladação e Círio nos moldes que temos até hoje. No dia 27 de novembro de 1919 a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi levada para a capela de São Sebastião e no dia seguinte esta imagem veio até a catedral conduzida em uma berlinda acompanhada de corda, com banda de músicas”.

 

De lá para cá, a festividade foi aumentando à medida em que o número de participantes e a própria cidade cresciam. “Dentre as principais mudanças, a principal delas é o próprio trajeto que era bem curtinho e foi se alongando conforme as ruas da cidade foram se abrindo. Começou com um percurso mais ou menos com um quilômetro e meio até o atual, que possui 7 quilômetros. Ao longo dessas quase 100 edições tivemos o uso de 4 imagens diferentes, com a questão do manto, a berlinda chegou a ser retirada, foi substituída por um andor e voltou a ser berlinda e outras coisas que foram sendo incluídas, sendo uma delas as homenagens. A principal delas é a feita pelos estivadores, mas existem muitas outras que fazem parte do trajeto e que também são muito tradicionais e aguardadas pelos fieis”.

 

Cirio 1971 berlinda e corda
Cirio 1971 berlinda e corda

 

A programação também passou por reformulações. Outras romarias foram surgindo e as diversas formas de manifestações de fé foram sendo aceitas e incluídas na programação oficial.  A imagem também foi substituída. A atual, confeccionada na metade do século XIX, é usada desde a década de 1960. “Hoje você tem além do Círio, o Círio das Crianças, romarias, procissão fluvial, Caminhada de Fé com Maria e muitas outras manifestações diferenciadas. Vale destacar também que mesmo com estas atividades mais recentes, ainda permanecem sendo realizadas algumas que são mais antigas que o próprio Círio como o arraial e o novenário da padroeira que remetem aos tempos do próprio Bettendorf, em homenagem a sua padroeira”, conclui padre Sidney. 

 


Círio de 1978




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