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Alunorte/Hydro: começar de novo

Lúcio Flávio Pinto - 06/09/2018

É como se a Alunorte, a maior fábrica de alumina do mundo, localizada em Barcarena, recomeçasse a sua história, 23 anos depois de iniciar suas atividades e quase 10 anos depois de passar do domínio da mineradora brasileira Vale para a multinacional norueguesa Norsk Hydro. É o que se conclui do Termo de Ajuste de Conduta que a empresa assinou, ontem, com os ministérios públicos federal e estadual e com o governo do Pará.

A longa lista de lacunas que a Alunorte precisará suprir e as inovações que precisará adotar levam a uma constatação chocante: mesmo sujeita a fiscalizações do poder público, com sua sede em uma área a apenas 50 quilômetros de Belém, a empresa transportava, tratava (com produtos tóxicos, como a soda cáustica) e descartava milhões de toneladas anuais sem os requisitos técnicos de operação à altura da ameaça potencial que toda essa movimentação, desde a mina, a 260 quilômetros de distância, até o porto.

Para que a operação se torne segura, a Alunorte precisará investir 160 milhões de reais, dando garantia financeira de R$ 250 milhões. E pagará ainda R$ 33 milhões de multas, não só sobre o acidente de fevereiro como sobre o 2009, pendente desde então. Provavelmente só depois de concluir os compromissos assumidos com o TAC é que, talvez, em até 90 dias, poderá retomar a sua plena capacidade de produção, de 6,3 milhões de toneladas. Desde março, a fábrica produz a metade desse total, os mesmos 50% adotados na mina de Paragominas e na Albrás, a fabricante de alumínio, igualmente em Barcarena, na etapa seguinte da cadeia produtiva, também controlada pela Hydro.

A parte ativa do acordo ficará por conta da empresa, que investirá para que o poder público, sem recursos financeiros para tanto, se aparelhe para fazer o que não fazia: apurar com segurança e em tempo real o que acontece ao longo do circuito produtivo da maior fábrica de alumina do mundo. Parece que o governo não se deu conta (por incompetência, negligência ou seja lá qual o motivo) da dimensão da questão e do seu dever. E a empresa, apesar de ser norueguesa e ter o governo nacional como seu maior acionista, não transportou para o Pará sua prática - e sua retórica de responsabilidade social e ambiental - vigentes na Europa.




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