15 de agosto, feriado, não é mais nome de rua. Mudança provoca polêmica
A Lei nº 20.466, que altera o nome da Travessa 15 de Agosto para Deputado Benedito Antônio Cota Guimarães foi sancionada pelo prefeito Nélio Aguiar em julho deste ano. O antigo nome era uma homenagem ao dia da adesão do Pará à independência do Brasil, feriado estadual. O projeto de autoria do vereador Ronan Liberal Jr (MDB) que homenageia o ex-político da cidade não agradou. O fato é que muitas pessoas ainda não assimilaram a mudança e donos de imóveis terão que mudar seus endereços no cartório, principalmente os comerciantes que alegam diversos transtornos para alterarem as documentações de seus estabelecimentos.
O logradouro, que também teve alterações no trânsito, quando mudou de sentido no ano passado, permanece sem placas de identificação, o que complica ainda mais para as pessoas se localizarem. A rua passa pelo cemitério Nossa Senhora dos Mártires, a sede da Rádio Rural, alguns casarões que ajudam a contar um pouco da história de Santarém, além de prédios governamentais, como a sede do Centro Regional do Governo do Estado do Pará.
Maria Medeiros, funcionária de uma ótica diz que clientes e pessoas que frequentam o local não vão se acostumar. “O costume de muitos anos dificilmente se muda em pouco tempo. Aqui sempre vai ser 15 de agosto. As referências mais lembradas vão ser sempre as mais antigas e a gente vê pelas lojas que ao longo do tempo mudam de nome, mas muitas pessoas se lembram ou se referem aos nomes antigos quando vai falar sobre o local. Com a rua não vai ser diferente. Todos ainda vão continuar se referindo a ela como 15 de agosto."
Para Antônio Galba Cunha, proprietário de uma farmácia, a maior preocupação serão os custos necessários para fazer a alteração do endereço nos documentos da firma. Segundo um levantamento feito por seu contador, o valor total deve chegar a R$ 1.300. “Vamos ter que alterar o endereço na documentação e isto vai gerar um custo, que ninguém das pessoas que fizeram a mudança vai nos ajudar a pagar. Acho que antes de fazer este tipo de mudança, deveria ter sido feita uma consulta com as pessoas que trabalham e moram no local para se ver a viabilidade”.
O mesmo problema foi apontado por Meire Aires, vendedora de uma loja de artigos para bebês. Ela reclama que ninguém foi consultado sobre a mudança. “A gente sabe que a mudança não vai trazer nenhum benefício de fato. Um dos fatores vai ser o fato de ter que alterar muitas coisas da loja como o cartão de vistas que é distribuído para os clientes. Vou ter que mandar fazer outros com o endereço atualizado e fazer a impressão, sem falar na documentação da firma que vai precisar ser alterada”.
Edson Queiroz é fotógrafo e morador do centro há mais de 20 anos. Ele reside no Solar do Barão de São Nicolau, um prédio histórico da cidade que atualmente fica localizado na Rua Maestro Wilson Fonseca. Anteriormente, o logradouro se chamava Floriano Peixoto e os moradores e comerciantes também passaram por algumas dificuldades, conforme relata Edson. “Tenho ouvido muitas reclamações, principalmente por parte dos empresários que vão ter que mudar de endereço sem mudar de lugar. Quando a mudança ocorreu em nossa rua todo mundo reclamou, algumas correspondências voltaram. Os casos em que os carteiros já conhecem fica fácil, mas quando se trata de endereço comercial ou jurídico complica porque até você resolver já rendeu diversos transtornos”.
O fotógrafo ressalta que não é contra a mudança dos nomes, mas, deveriam ter sido observados alguns critérios antes de fazer as alterações. Outra situação apontada é a falta de informação, depois que há a mudança, a Câmara Municipal não informa ou demora a informar as concessionárias de água, energia ou demais empresas que necessitam manter contato com seus clientes por meio de correspondência. “Acho que existem personalidades que merecem sim ser homenageadas, mas deveria ter sido observada a questão de que essas ruas já possuem esses nomes há muitos anos e já fazem parte da história da cidade. Existem muitas ruas em outras partes que são bonitas e que poderiam ser perfeitamente nomeadas com as personalidades locais que ainda não foram contempladas”.
O caso mais curioso acaba sendo o de uma loja de celulares, localizada no cruzamento a Wilson Fonseca com a Benedito Guimarães. A loja foi instalada ali após a mudança de nome e mesmo assim, como muitos santarenos, batizou a filial de Floriano Peixoto, o nome antigo do logradouro. Desta vez, a rua ao lado que mudou de nome. Procurada pela equipe de reportagem, a proprietária não gravou entrevista, mas confirmou que está ciente da mudança do nome da rua, que ainda está verificando se há a necessidade de fazer alterações na documentação e de que forma isso dever feito para tomar as devidas providências.
