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O fim da cultura Neymar?

Lúcio Flávio Pinto - 16/07/2018

Neymar durante jogo Brasil x Bélgica pela Copa do Mundo. Foto: Terra -

Acabou a hegemonia do Brasil no futebol mundial?

Esta é a grande questão, que a Copa do Mundo da Rússia deixa para os brasileiros empenhados em ver a realidade. O sonho do hexacampeonato se frustrou pela quarta vez, desde a última conquista, de 16 anos atrás, na Copa da Coréia do Sul e do Japão. Parecia que o prato estaria servido quatro anos atrás, quando o próprio Brasil sediou a competição, 64 anos depois de tê-la abrigado pela primeira vez.

Não havia a menor dúvida que em 1950 a seleção nacional era a melhor de todas. Só não pode ser considerada a melhor de todos os tempos,  pelo seu conjunto, porque não contava com o maior jogador que já praticou o nobre esporte bretão na Terra: Pelé. O desastre do Maracanã, com a vitória do Uruguai por 2 a 1, pode ser atribuído à imaturidade de um povo criado com a ladainha de que Deus é brasileiro, podendo operar milagres a qualquer momento por seus filhos, e que o jeitinho vale mais do que a aplicação, a competência e a seriedade. Se o povo brasileiro tivesse mais estrutura civilizatória, não teria sobrado para ninguém nas duas décadas seguintes.

A síndrome do Maracanã resultou no fracasso de 1954, na Suíça. Quatro anos depois, porém, crescendo ao longo da competição (como em 1962), o Brasil ofereceu um duplo 5 a 2 (contra a França e a anfitriã, a Suécia), que não deixou qualquer dúvida: o futebol brasileiro era o melhor do planeta. Depois da repetição no Chile, o novo colapso de 1966, na Inglaterra, resultou do acovardamento geral diante da caçada que nosso irmãos portugueses fizeram a Pelé, com a cumplicidade do juiz. O tri em 1970 restabeleceu a verdade, com um final glorioso: 4 a 1 na Itália.

A partir daí, foram 24 anos e seis Copas para o Brasil voltar a sentir o gosto do triunfo, que não se repetiu logo em seguida porque o time amarelou mais uma vez, agora da maneira mais estranha possível, entregando o troféu aos franceses, donos da casa, por um patético 3 a 0 que só viria a ser superado pelo vexaminoso 7 a 1 da Alemanha em 2014, o pior momento da  pátria de chuteiras.

Neste 2018, entretanto, seria diferente. Finalmente, tínhamos um técnico, o que foi sacramentado pelo antes e depois de Tite, e o passeio do esquadrão canarinho pelas eliminatórias a partir daí. O máximo de adversidade que o Brasil teria quando a Copa russa começou seria não ser campeão, perdendo a final para um azarão, que seria qualquer outra seleção. Mais uma vez, o Brasil não ficou entre os quatro melhores. E ofereceu ao mundo o espetáculo vergonhoso de Neymar, um voluntarioso, infantil e patético cai-cai, com muita dose de simulação.

Depois dos magros escores das últimas Copas, a França impôs um placar mais dilatado (é certo que com alguma ajuda do juiz, infelicidade e cansaço dos croatas, destituídos de sorte, que foi generosa para com os gauleses). Dos seus 11 jogadores que começaram a partida, cinco eram negros. Negro é o adolescente de 19 anos considerado a maior revelação do torneio. É o componente que a Europa incorpora da imigração intensa dos últimos anos, mas que terá de ser considerado pela outra forma de abordagem, que rejeita esse componente como elemento da sociedade em geral.

Das quatro seleções (todas europeias) que chegaram às finais, duas foram surpreendentes. A melhor delas, tecnicamente, a Bélgica, teve que se contentar com um terceiro lugar porque a França tinha um autêntico fenômeno, Mbapé. Tantas novidades e mudanças registradas na Copa da Rússia se explicam por vários fatores, além da miscigenação na até então fechada Europa, como muito exercício físico, treinamento de jogadas, adestramento atlético e planejamento estratégico.

A falta de gingado, malícia e jeitinho, que seriam características a diferenciar os jogadores latino-americanos dos demais, como sua vantagem competitiva, se tornaram irrelevantes ou absolutamente secundárias. Daí o número recorde de gols originados de bolas paradas e as jogadas surpreendentes dos jogadores europeus, fazendo manobras inéditas com a bola nos pés.

O futebol mudou profundamente. Se o Brasil continuar deitado em berço esplêndido, vai ficar para trás, em posição secundária. A cultura Neymar chegou ao fim. Inclusive para ele




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