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Memória de Santarém: O flagelo da seca (1957-1959)
Nordestinos enquanto aguardavam embarque no porto de Fortaleza(CE) -
Créditos: Arquivo /Portal OESTADONET
Por causa do “flagelo da seca”, em 10 meses, a partir de junho de 1957, 1.730 imigrantes do Nordeste chegaram a Santarém. Integrantes da Sociedade Estudantil de Assistência Social recebiam os retirantes a bordo das embarcações e os levavam para um abrigo organizado pela associação e a prelazia. A prefeitura custeava a alimentação, os remédios e o transporte dos migrantes até as colônias agrícolas, onde eram instalados. Foi a maior das levas de retirantes desde o final da exploração da borracha
Primeira associação
Em outubro do mesmo ano foi fundada a União Beneficente dos Nordestinos, na colônia de Mojuí dos Campos. À frente da iniciativa estavam o então morador local Júlio Walfredo Aguiar e o deputado estadual Elias Pinto, o primeiro cearense de nascimento e o segundo filho de cearense, nascido no Pará.
A entidade teria por principal objetivo a ajuda e assistência aos imigrantes nordestinos, que se estabeleceram principalmente nesse núcleo, que hoje é município. Ao chegar à cidade, sem recursos, eles passavam vários dias vivendo debaixo do trapiche até receber a ajuda de conterrâneos, já estabelecidos nas colônias agrícolas no planalto da cidade, que os conduziam aos locais aonde iriam se estabelecer.
Justificando a necessidade da associação, Elias Pinto disse: “Do desembarque à colheita da primeira lavoura, o nordestino vive uma tragédia que nunca mais conseguirá apagar-se da sua memória”.
Chegam mais seis mil
Em fevereiro de 1959, seis mil nordestinos “foram jogados na praia como peixe podre”. A denúncia foi feita, no plenário da Assembléia Legislativa, em Belém, pelos deputados estaduais Benedito Monteiro, que era do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), e Cléo Bernardo, do PSB (Partido Socialista Brasileiro).
Benedito disse ter testemunhado “o ato mais desumano” de sua vida: o administrador de Belterra constituir advogado para expulsar das terras da então autarquia federal os colonos nordestinos que ali conseguiram chegar, “esfaimados e em farrapos”. Pediu a união de todos para conseguir que o governo desse ao problema dos nordestinos “a atenção que é obrigado a dar para prevenir piores conseqüências”.
Nordestinos unidos
Logo em seguida, em 7 de março de 1959, foi fundada em Santarém a União dos Nordestinos, uma sociedade de amparo mútuo, em reunião realizada na residência de José Saraiva Macedo, um dos seus principais idealizadores. Era a oficialização de uma entidade que já existia informalmente na cidade desde algum tempo antes, mas que não podia “contar com o amparo legal por não estar devidamente registrada”. Seu objetivo era “unir os nordestinos radicados em Santarém, para trabalharem em conjunto e dar assistência, orientação e amparo às constantes levas de nordestinos que as secas periódicas obrigam a refugiar-se no Munic&iac ute;pio de Santarém”.
Registra a ata, publicada em junho daquele ano, que foi “a angústia particularmente desoladora destes últimos anos de seca no Nordeste, especialmente de 1952 para cá, e muito mais acentuadamente as secas de 1957 e 1958, que, só essas duas, empurraram para Santarém, até esta data, nada menos de dez mil flagelados nordestinos”. A associação se encarregaria de ajudar os imigrantes, “geralmente desamparados do Governo”, que só poderiam contar com o próprio esforço e com a “caridade dos seus irmãos de sangue”.
A primeira diretoria da entidade foi assim constituída: presidente, José Saraiva Macedo; vice-presidente, Júlio Walfredo Aguiar; 1º secretário, Moacir Catunda Lopes; 2º secretário, José Hiron Machado; 1º tesoureiro, Antônio Augusto Costa; 2º tesoureiro, Edivar Saraiva Macedo. Conselho Fiscal: Waldemar Pena, José da Costa Filho e Wanderley Marques de Lima. Além deles, participaram da reunião de fundação José Rocha, Francisco da Costa, João Gomes Catunda e Francisco da Costa e Silva.
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