Lembranças de Santarém: Nas asas da Panair (e da democracia)
Aeromoça da Panair com um modelo do Caravelle - Créditos: www.cavok.com.br
Um dos mais ignóbeis atos praticados pelo primeiro presidente da república depois do golpe militar de 1964, o marechal Castello Branco (tido como um dos mais democratas do Exército), foi o fechamento súbito, arbitrário e violento da Panair do Brasil, em 1965. Foi vingança política e favorecimento à Varig, que, ao contrário da Panair, apoiou a deposição do presidente João Goulart e a suspensão da democracia no país.
Agora, 58 anos depois, um dos componentes desse inédito ato de força foi corrigido: a Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aprovou a anistia política post-mortem de Celso da Rocha Miranda, que era o acionista majoritário da Panair. Ele acompanhou, sobressaltado, a suspensão das operações da companhia, inclusive os cobiçados voos, no exterior, seguida pelo decreto de falência. Imediatamente as linhas passaram para a Varig.
A empresa rio-grandense procurou copiar o modelo Panair, com relativo sucesso, sem jamais ocupar o lugar da antecessora, a melhor, mais simpática, a mais querida e inimitável empresa de transporte aéreo do Brasil, das melhores do mundo. Imortalizada na canção Nas Asas da Panair, de 1974, de Milton Nascimento e Fernando Brant. O outro título, Conversa no Bar, foi esquecido.
Viajei pela Panair desde a mais tenra idade, indo nos heroicos e sonolentos Catalinas até o insuperável Caravelle e os DC-8. Um dos meus tios, Dácio Campos, era o agente em Santarém. E um amigo de Belém, Antônio Couto, era funcionário em Belém. Na ida e na volta nesse trajeto, viajava carregado de cartas e encomendas.
Santarém: Hidroporto da Panair do Brasil, 1947
Comemorei a notícia e soltei rojões simbólicos para saudar as centenas de empregados da Panair que penaram sofrimentos e dificuldades depois de serem colocados instantaneamente na rua da amargura, desempregados. Enquanto viveram, todos os anos se reuniam para lembrar os bons tempos nas asas da Panair. E da sempre maltratada democracia.