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O pioneiro Paulo André Barata

Portal OESTADONET - 26/09/2023

Paulo André Barata - Créditos: Arquivo/Vilma Reis

Paulo André Barata, que morreu ontem, foi um pioneiro, um abridor de portas, janelas e caminhos. Saiu do isolado, ignorado e discriminado universo da cultura musical paraense e conseguiu um lugar no centro dominante do país. Apresentou criações de qualidade e originais graças à formação de parceria com o seu pai. O poeta, advogado, político, professor e boêmio Ruy Barata apresentou ao filho a rota e o roteiro de uma forma original de música, importada do Caribe, e que em Belém se materializou no bolero, no merengue e suas extensões melódicas.

 

Por sua sensualidade, essa música sofreu forte repressão. Não podia ser tocada em casa de família. Ela estimulava os dançarinos a movimentos callientes com seus pares, no esfrega-esfrega de corpos colados. Exigia a calça branca de linho, bem passada para dar o balanço e compor a coreografia. O passo ousado se libertava da vestimenta, que vinha atrás, compondo o balé "subversivo". Um teatro popular.

 

Paulo André apresentou seu cartão de visita em conjunto com Ruy, com "Foi assim", projetada do ambiente boêmio da periferia de Belém para os palcos do Sul Maravilha na voz de Fafá de Belém. Foi um achado e uma descoberta, inclusive para a maioria dos paraenses, ilhados no centro da cidade, alheios à cultura dos subúrbios, percorridos por Ruy e Paulo, e inspiração para uma vertente da cultura musical paraense, tão autêntica e importante quanto outras miscigenações culturais, como o carimbó e os produtos mais recentes da globalização, incluindo as suas versões alternativas e contestadoras.

 

Paulo André Barata morreu cedo, aos 77 anos; que vivam as suas criações e o perfume que boleros e merengues transpiram no ar mais oculto da cidade.




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