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Peixes consumidos em seis cidades paraenses têm alto índice de contaminação por mercúrio, aponta pesquisa
Piracatinga, uma das espécies de peixe pesquisadas - Créditos: Divulgação/Arquivo
Os peixes consumidos pelos moradores de seis cidades paraenses têm alto índice de contaminação por mercúrio com centração do metal acima do limite recomendado pelas regras sanitária e de saúde. Os dados são de uma pesquisa inédita feita por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio, Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), Greenpeace, Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil.
Entre as espécies analisadas com maior contaminação estão o coroataí, barba chata, piracatinga, filhote e peixe cachorro.
Foi identificada a contaminação por mercúrio em peixes consumidos pela população em seis estados da Amazônia brasileira cuja concentração do metal é, em média, 21,3% acima do permitido.
No Pará, o município de São Félix do Xingu, no Sul do estado, apresentou nível de 29,41% nos peixes comercializados aos moradores. Em Itaituba, região onde a atividade garimpeira é predominante, o percentual de contaminação é de 21,13%. Na terceira colocação nesse ranking está Oriximiná, onde esse percentual é de 14,08%. Altamira vem logo a seguir com um índice de 13,95%. A capital Belém apresentou percentual de 8,57%, enquanto que Santarém registrou 7,14%.
Segundo os dados, entre os estados pesquisados, Roraima tem o maior índice de contaminação: 40% dos peixes analisados possuem índices do metal pesado altamente tóxico superior ao limite recomendado pelas regras sanitárias e de saúde.
No estudo foram incluídos dados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Para chegar ao dado, a pesquisa avaliou peixes vendidos em estabelecimentos comerciais em cidades nos estados e, depois, foi produzida uma média.
O mercúrio é altamente tóxico. O metal é usado por garimpeiros que atuam ilegalmente na Amazônia durante a exploração de ouro, principalmente em territórios indígenas. O metal é utilizado para separar o ouro de outros sedimentos e, assim, deixá-lo "limpo".
Depois desse processo, o mercúrio é despejado no ambiente e, sem qualquer cuidado, se acumula nos rios e entra na cadeia alimentar por meio da ingestão de água e peixes.
Como consequência, o mercúrio no organismo pode causar graves problemas de saúde que afetam o sistema nervoso (potencial neurotóxico). O metal líquido fica retido no organismo devido à capacidade de bioacumulação. Além disso, a concentração aumenta em cada nível da cadeia alimentar.
Para os pesquisadores, essa alta tem relação com o avanço de garimpos de ouro. Foram coletadas amostras de 80 espécies de peixes em todas as capitais destes estados e de outros 11 municípios do interior.
MÉDIA DE PEIXES CONTAMINADOS POR ESTADO
Acre: 35,90%
Amapá: 11,40%
Amazonas: 22,50%
Pará: 15,80%
Rondônia: 26,10%
Roraima: 40%
A presença do mercúrio no organismo humano pode causar problemas de saúde que afetam o sistema nervoso, sendo mais grave o consumo por grávidas, por sua interferência na saúde do bebê, e para crianças.
A Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO/WHO) e a Agência de Vigilância Sanitária brasileira estabelecem teor de 0,5 micrograma por grama. Essa foi a base de cálculo usada no estudo para chegar ao nível de contaminação.
Consumo do peixe por faixas de idade
O estudo, denominado "Análise regional dos níveis de mercúrio em peixes consumidos pela população da Amazônia Brasileira", foi desenvolvido de março de 2021 a setembro de 2022, com amostras de 1.010 peixes coletados nos 17 municípios, incluindo as capitais.
Para identificar o nível de contaminação dos peixes, os pesquisadores fizeram as coletas dos animais em mercados públicos, feiras-livres ou direto com pescadores - como foi o caso de Roraima. Depois, analisaram o impacto dessa contaminação na saúde humana, usando como parâmetro o consumo de peixe entre quatro grupos: homens adultos, mulheres em idade fértil, crianças de 2 a 4 anos, e de 5 a 12 anos.
O levantamento tinha como objetivo avaliar qual o risco para a saúde humana em caso do consumo de peixe contaminado por mercúrio. O resultado em todas as regiões analisadas coloca em alerta a saúde pública, na avaliação os pesquisadores.
Do total geral de peixes estudados, 110 eram herbívoros, 130 detritívoros, 286 onívoros e 484 carnívoros. Os carnívoros, mais apreciados pelos consumidores finais, apresentaram níveis de contaminação maiores do que as espécies não-carnívoras.
A análise comparativa entre espécies indicou que a contaminação é 14 vezes maior nos peixes carnívoros, quando comparados aos não-carnívoros.