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Da Bolívia ao Tapajós: a rota ilegal do mercúrio até chegar nos garimpos das terras Munduruku

Portal OESTADONET, com informações do InfoAmazonia - 02/12/2022

Ciclo do mercúrio do garimpo à pesca. - Créditos: Fonte: InfoAmazonia

Reportagem do site InfoAmazonia percorreu pontos do comércio ilegal de mercúrio na fronteira entre Bolívia e Brasil, onde o metal é usado ilegalmente nos garimpos da Amazônia para extração de ouro. Abaixo os principais destaques da matéria:

 

Os pontos do comércio ilegal de mercúrio na fronteira entre Bolívia e Brasil, onde o metal é usado ilegalmente nos garimpos da Amazônia para extração de ouro, começam em Guayaramerín, na Amazônia boliviana. A facilidade para cruzar a fronteira em Guajará-Mirim também atende a alta demanda por mercúrio nos garimpos ilegais da Amazônia brasileira.

 

Altamente tóxico, o metal é único em estado líquido na temperatura ambiente. Sua alta densidade é capaz de aglutinar as menores partículas de ouro, o que forma uma amálgama e facilita a extração do minério.


Ourivesarias, especialistas em metais preciosos (especificamente prata e ouro) e na fabricação de joias e ornamentos, lojas de produtos de beleza e casas particulares também negociam o metal do lado boliviano.


O preço:  R$ 50 mil por um cilindro de 34,5 quilos de mercúrio. Preço que chega em Porto Velho.


O metal altamente tóxico é usado em sua forma líquida no processo de extração de ouro nos garimpos. O resíduo do mercúrio contamina o meio ambiente e afeta populações que vivem ou consomem alimentos nas regiões garimpeiras (ver abaixo), podendo causar a doença de Minamata, uma síndrome neurológica provocada pelo envenenamento por mercúrio.


Dados do Ibama, obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostram que, pelo menos desde 2020, não há registro de importação de mercúrio para uso na mineração no Brasil. O país diminuiu as importações legais a partir de 2014, com uma redução média de cerca de 50% até que, em 2021, o Brasil zerou a importação de mercúrio.

 

 


Nas margens do Rio Mamoré, o fluxo de pessoas e mercadorias é praticamente livre entre Brasil e Bolívia

 

 

Por sua vez, a Bolívia, um dos poucos países que não restringiu as transações internacionais de mercúrio, aumentou o volume de importação do metal em mais de 2.000% desde 2013, apontam dados compilados pela Chatham House na plataforma Resource Trade Earth. Em 2020, a Rússia se destacou como principal fornecedor de mercúrio para a Bolívia, Estima-se que até metade desse mercúrio seja desviado para garimpos ilegais no Peru e Brasil.


A contaminação por mercúrio que afeta os povos indígenas da floresta é retratada no documentário “Amazônia, a Nova Minamata?”, do diretor Jorge Bodanzky. O filme mostra a situação vivida pelos Munduruku do médio e alto Tapajós com a contaminação por mercúrio e compara com o caso de Minamata, no Japão.


O controle sobre a importação, o uso e o comércio de mercúrio no Brasil é atribuição do Ibama.

 

 


Fotos de mercúrio ilegal apreendido pela Polícia Rodoviária Federal. Fotos: PRF/Divulgação

 


A contaminação por mercúrio já afeta os povos Munduruku, onde a população apresenta sintomas neurológicos típicos da doença de Minamata, como alteração da atenção, redução da capacidade de concentração e queixas de adormecimento nas mãos e nos pés. 


Estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicados em 2021 identificaram que todos os indígenas de três aldeias da Terra Indígena Sawré Muybu, da etnia Munduruku, tinham mercúrio no organismo. Mais da metade, 60%, apresentou nível tóxico de mercúrio acima do limite tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).


O Brasil assinou a Convenção de Minamata em 2013, mas o governo brasileiro só ratificou o tratado em 2018. Desde 2020, tramita no Congresso brasileiro projeto de lei (PL 5490/2020) para criação do Plano Nacional de Erradicação da Contaminação por Mercúrio.




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