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Garimpo e desmatamento sujaram água em Alter do Chão, conclui laudo da Polícia Federal

Fabio SerapiãoE Pedro Ladeira/FSP - 16/02/2022

Policiais federais e servidores do Ibama atuam em garimpos ilegais na região do rio Crepori, afluente do rio Tapajós, no município de Jacareacanga (PA). A ação é parte da operação Caribe Amazônico - Créditos: Pedro Ladeira/Folhapress

Um laudo pericial produzido pela Polícia Federal com base em imagens de satélite confirma que a mudança de cor da água de Alter do Chão, ponto turístico do Pará conhecido como Caribe da Amazônia, foi causada pela intensificação do garimpo ilegal no rio Tapajós e seus afluentes.

 

A PF realiza desde o início da semana uma operação contra o garimpo ilegal dentro da Área de Proteção Ambiental do Tapajós entre o rio Crepori e a terra indigena Mundukuru.

 

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O perito responsável pelo caso analisou imagens coletadas de julho de 2021 a janeiro de 2022. Elas mostram a evolução dos sedimentos desde os rios no Mato Grosso e o "aumento drástico" na quantidade de sujeira ao passar pela região dos rios Crepori e Jamanxin, onde estão os alvos da PF.

 

A análise da perícia da PF mapeou como a "pluma de sedimentos" que turvou as águas teve origem ainda no estado do Mato Grosso no final de outubro e início de novembro de 2021. No entendimento dos técnicos da PF, ela tem como causa o desmatamento nas margens dos rios Juruena e São Manuel, que deságuam no Tapajós, para plantação de monocultura.

 

"O desmatamento que ocorre nas margens dos rios citados favorece a lixiviação de material arenoso, argiloso e siltoso. Esses elementos são carreados até os corpos hídricos onde os sedimentos mais finos costumam ficar em suspensão por mais tempo percorrendo longas distâncias", diz a PF.

 

Em 25 de novembro, a pluma de sedimento já estava em Itaituba e, entre 30 de novembro e 2 de dezembro, chegou às águas cristalinas de Alter do Chão.

 

"A pluma seguiu descendo o rio e se intensificou drasticamente com o aporte de mais sedimentos advindos, principalmente, dos rios Crepori e Jamanxim, no médio Tapajós", diz o laudo.

 

A PF comparou imagens de afluentes do Tapajós onde não há atuação de garimpeiros e concluiu que eles "permanecem com suas águas mais escuras esverdeadas, indicando que não possuem sedimentos em suspensão".

 

O laudo, embora não tenha analisado a água do rio, alerta também para uso de produtos químicos como mercúrio e o cianeto em garimpos como os da calha do Tapajós.

 

Folha acompanha a ação da PF contra os garimpos em Alter do Chão desde segunda (14).

 

Na terça (15), a bordo de um dos quatro helicópteros que dão apoio à operação, a equipe de reportagem avistou uma das primeiras clareiras abertas pelos garimpeiros.

 

Ao sobrevoar os buracos abertos na floresta o que se vê é uma mistura do pouco verde que sobra após a ação humana com a terra esbranquiçada devido à concentração de argila citada pelo perito no laudo.

 

A argila se amontoa ao lado de crateras cheias de água que foram abertas com jatos de água e escavadeiras.

 

 

Operação da Polícia Federal contra o garimpo ilegal na Amazônia

 

 

São esses sedimentos de cor clara que, levados pela correnteza até a região de Alter do Chão, inviabilizam a exploração turística das águas cristalinas da cidade.

 

"Tais sedimentos tendem a causar assoreamento e o aumento da turbidez da água, afetando fortemente a fauna e ictiofauna. Há também impactos relacionados ao uso de produtos químicos tóxicos, como o mercúrio, óleos lubrificantes e combustíveis, que poluem os rios e as APPs, causando danos diversos à saúde humana e animal", diz o documento.

 

Nos garimpos, entre os itens mais procurados pelas autoridades estão as escavadeiras, utilizadas para derrubar a mata e abrir os pontos de garimpo.

 

Em um desses locais, a cerca de 15 minutos de helicóptero da base em Jacareacanga, onde as forças de segurança estão acampadas, os sinais eram de que os garimpeiros tinham saído havia pouco tempo. A suspeita dos policiais é que eles perceberam a movimentação das aeronaves.

 

No acampamento montado no meio do mato, a comida ainda estava quente no fogareiro utilizado pelos garimpeiros, e a água armazenada se mantinha gelada. Uma caminhonete e bombas de água foram queimadas ou inutilizadas com tiros pelos policiais.

 

Na terça (15), foram inutilizadas 8 escavadeiras, sendo 2 novas, 14 motobombas utilizadas na extração de minério, 3 acampamentos e uma balsa. Mais de 10 mil litros de combustíveis foram apreendidos.

 

Nesta quarta (16), novamente os policiais, divididos em cinco equipes, quatro em helicópteros e um em um barco, saíram da base de apoio no início da manhã.

 

Após o primeiro dia de investida contra os garimpos, a missão agora é seguir os rastros na floresta e tentar encontrar mais escavadeiras e balsas utilizadas pelos garimpeiros.




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