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Bolsonaro, o mestre do caos

Lúcio Flávio Pinto - 12/05/2020

Bolsonaro participa de manifestação contra o Congresso Nacional e STF - Créditos: Poder360

Um dia depois de provocar espanto e indignação ao circular descontraidamente em jet-ski pelo lago Paranoá, em Brasília, quando o Brasil superava 10 mil mortes causadas pelo coronavírus em subnotificado registro oficial, o presidente Bolsonaro se apresentou com máscara de proteção e a manteve no rosto (até se preocupando em ajustá-la ao nariz, quando ela o descobria) até o fim de entrevista à imprensa.

 

Foi a primeira vez que Bolsonaro se comportou dessa maneira, após várias aparições públicas de rosto livre, dando abraços e apertos de mãos a pessoas que se aglomeravam em torno dele.

 

Ontem, também pela primeira vez, o presidente lamentou as mortes pela covid-19, já então com mil casos a mais do que quando ele passeava pelo lago. Imediatamente criticou governadores e prefeitos por estarem envolvidos em denúncias e investigações sobre desvio de recursos públicos, aproveitando-se da dispensa ou inexigibilidade de licitação para comprar produtos e equipamentos de combate à pandemia.

 

Ontem mesmo, o presidente mandou para uma edição extra do Diário Oficial da União um ato acrescentando salões de beleza, barbearias e academias de ginástica entre os serviços essenciais. Assinaram a decisão dois ministros "da casa", em gabinetes ao lado do presidente, no Palácio do Planalto: os generais Braga Netto (chefe da Casa Civil), e Luiz Eduardo Ramos (da secretaria de governo).

 

Ambos vão depor hoje na Polícia Federal, junto com o general Augusto Helena (do gabinete da segurança institucional), no inquérito que apura a interferência de Bolsonaro para assumir o controle da corporação, que o investiga e aos seus filhos.

 

O ministro da Saúde, Nelson Teich, soube da decisão do presidente em meio a uma entrevista coletiva, quando anunciava a conclusão de um plano para conciliar a volta gradativa da atividade econômica às normas científicas de proteção à saúde pública da pandemia.  Esta seria a principal missão de Teich quando assumiu o ministério, quase um mês atrás, no lugar de Luiz Henrique Mandetta.

 

As câmeras de televisão flagraram o desconforto e constrangimento de Teich. Já com aspecto cansado e tenso, com olheiras, gravata frouxa, camisa mal posta sob o casaco do paletó, ele se virava nervosamente para o lado, como se estivesse em busca de oxigênio lógico. Por fim, conseguiu dizer que definir serviços essenciais, que devem ser mantidos em funcionamento, seria missão não dele, mas prerrogativa do presidente da república, ouvido o ministério da Economia, competente para a tarefa. Mas o ministro Paulo Guedes não foi ouvido.

 

Esses fatos não deixam dúvida. Bolsonaro é incapaz de pensar administrativamente. Muito menos a partir de planejamento, que requer decisões de longo prazo. Ele age impulsivamente no cotidiano como livre atirador, agindo como se fosse duas pessoas distintas (e até opostas e conflitantes), em evidente esquizofrenia. O que prepondera é a sua obsessão por um segundo mandato. Tudo que faz tem inspiração e objetivo político, em parâmetros personalíssimos.

 

Essa praxis inclui a intransigente defesa dos filhos, que sãos eus ministros ad-hoc (com impunidade assegurada pelo pai, que os trata por "meninos", cujas estripulias são perdoadas). Para fortalecer essa aliança, vale-se da sua condição de militar, embora não seja oficial superior. Agrupa sob sua liderança generais em altos postos de poder e centenas de empregos concedidos a militares de hierarquia inferior. Num grave impasse entre Bolsonaro e seus inimigos, eles não ficariam com o colega de corporação e seu chefe em função civil?

 

Esse contexto talvez explique a investida de Bolsonaro nas áreas de competência dos ministérios de saúde e economia, ignorando os ministros e tratando com leviandade o grave problema de saúde pública, que não admite amadorismo. Aproveita o mote para golpear de uma só vez governadores, prefeitos, deputados, senadores e a justiça, induzindo a ofensiva contra elas por sua milícia, dando-lhe como arma a corrupção e a irresponsabilidade de todos os acusados no trato da saúde do trabalhador e dos empresários.

 

Bolsonaro quer o caos, no qual sente-se à vontade para fazer o que busca: impor a sua vontade personalíssima.




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