Banpará energia solar  julho 2024

Moro deixa um governo podre

Lúcio Flávio Pinto - 24/04/2020

Sérgio Moro entrou muito mal no governo Bolsonaro, mas ao sair, hoje, saiu bem. Ao invés de contemporizar e se anular, como fez Mandetta, saiu atirando. Não com balas de festim, mas com bala verdadeira. Disse que saía constrangido do ministério da Justiça e Segurança Pública porque o órgão e a Polícia Federal, ao qual está subordinada, vão ser contaminados por interesses políticos e pessoais do presidente da república.

 

Bolsonaro mesmo admitiu, em conversa com Moro, ontem, que seria política a demissão do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. O ministro lhe respondeu que se isso acontecesse teria que se afastar. Confessou Moro que chegou a pensar em alternativas para evitar a consumação do desejo do presidente em época tão inapropriada, quanto esta, de pandemia do coronavírus. Poderia até significar a entrega da cabeça de Valeixo, desde que o seu substituto fosse indicado pela própria corporação e referendado por Moro.

 

Ao acordar, porém, o ministro viu no Diário Oficial da União a demissão do diretor da PF diretamente por Bolsonaro, com uma fraude: o ato atribuiu a exoneração a uma iniciativa do funcionário demitido, "a pedido" - pedido que não fora feito.

 

Não havia mais saída alguma que não fosse a demissão. Mas Moro não saiu calado nem falando sobre o sexo dos anjos. Fez um libelo contra Bolsonaro, que agiu com base em - ou buscando mais - "relações impróprias" com o ministério e a Polícia Federal. Para isso, fraudando de uma maneira tão cínica o ato da demissão.

 

Os fatos apontados por Moro na sua carta de demissão, transformada imediatamente num documento de grande valor histórico, são suficientes para levar a uma conclusão: o governo Bolsonaro está podre. Sabe-se que tudo que apodrece cai de podre. É o que acontecerá com o governo Bolsonaro?

 

Com sua atitude de hoje, Sérgio Moro sai atrás da biografia que interrompeu com sua decisão de integrar o governo que agora descreve em tintas carregadas. Conseguirá essa retomada ou ele próprio, com toda sua valiosa contribuição para a vida pública brasileira, já é história?

 

Em tempos de pandemia grave, as respostas virão rapidamente e insidiosamente pela via comum: pelo vento.




  • Imprimir
  • E-mail