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Bolsonaro no picadeiro
Como se adicionasse um despretensioso ps (post scriptum) verbal ao seu discurso, by the way, Jair Bolsonaro anunciou que a eleição de outubro de 2018 (de um ano e meio atrás) foi fraudada. Se não fosse, ele teria vencido a disputa pela presidência da república já no primeiro turno. Garantiu que a denúncia não era apenas garganta. Teria documentos comprovando a fraude, que apresentará brevemente.
No cenário de Miami, paraíso da cultura de orelha de livro ou de bits de internet de brasileiros nouveaux riches, a surpreendente revelação poderia ser encarada como mais um exercício de boataria ou produto de excesso etílico. Apresentada pela autoridade máxima do país, porém, é chocante.
Por que Bolsonaro esperou tanto tempo para atirar a bomba? Por que em país estrangeiro? Por que não apresentou logo os documentos? Melhor fazendo: por que não representou à justiça eleitoral? Por que não esqueceu a história, já que a suposta manobra não o impediu de se eleger no segundo turno? Por que acrescentar mais uma fonte de tensão num ambiente já convulsionado por tantas crises e incertezas?
Quem sabe, com a irresponsabilidade que já o caracteriza e sem qualquer apreço sequer à verossimilhança do que diz, como um jorro de absurdos, Bolsonaro pretendeu entregar a quem for à passeata do próximo domingo mais uma fake news para brandir como bandeira da boa política, da moralidade e... de um ataque à democracia?
O presidente maneja o fogo julgando-se um artista circense. É bom lembrar um ditado caro a essa cultura: alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo.