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Bolsonaro versus Folha

Lúcio Flávio Pinto - 01/12/2019

O presidente Jair Bolsonaro quer imprensa livre e independente. Mas, “acima de tudo, que fale a verdade”. Diz que não está “pedindo muito”. Só quer que a imprensa diga o que ele considera ser a verdade, não qualquer outra. Por isso, disse recomendou à Folha de S. Paulo se retratar de “todos os males e calúnias que fez contra a minha pessoa”. Ele, naturalmente, como árbitro do que é verdade.

 

Por isso, vem aumentando a escalada de represálias e punições ao jornal da família Frias. Deixou de lê-lo, recomenda ao seus adeptos que não o comprem mais, aos anunciantes que deixem de veicular suas peças, acabou com as assinaturas da Folha, excluiu-a da verba oficial de publicidade e proibiu sua circulação em seu governo.

 

Edital de pregão eletrônico divulgado no dia 28 prevê a contratação por um ano, prorrogável por mais cinco, de uma empresa especializada em oferecer a assinatura dos veículos de imprensa à presidência, com valor estimado de 131 mil reais para jornais e R$ 63 mil para revistas, num total de R$ 194 mil. São citados 24 jornais e 10 revistas. A Folha não é mencionada. O pregão eletrônico, marcado para 10 de dezembro, tem um.

 

Recentemente, Bolsonaro editou uma medida provisória extinguindo a obrigação de empresas publicarem seus balanços em veículos impressos. A MP já foi derrotada em uma comissão da Câmara Federal e deve ter esse destino final.

 

​​​​A principal função da imprensa é fiscalizar a ação dos detentores de poder, sobretudo dos agentes públicos, criticá-los quando necessário. Ao invés de responder às críticas e esclarecer os fatos, Bolsonaro ataca, seguro de ser a melhor defesa.

 

Foi o que aconteceu, por exemplo, quando a Folha noticiou, quando era deputado federal, Bolsonaro usou dinheiro da Câmara para pagar o salário da assessora Walderice Santos da Conceição, que vendia açaí na praia e prestava serviços particulares a ele em Angra dos Reis no Rio de Janeiro, onde o presidente tem casa de veraneio. A versão de Bolsonaro foi confrontada com fatos que ele omitia.

 

Um exemplo de boicote à imprensa foi dado pelo primeiro presidente do regime militar. Irritado com as críticas do Correio da Manhã, que apoiara a derrubada de João Goulart, o marechal Castelo Branco começou a perseguir o jornal, inclusive pressionando anunciantes. O combate foi endurecido pelo seu sucessor, o marechal Costa e Silva, que conseguiu até a prisão da dona do jornal, Niomar Muniz Sodré Bittencourt, e prosseguiu ou mandou prender seus jornalistas.

 

Correio, fundado em 1901, foi o mais influente jornal brasileiro até o golpe de 1964. Desapareceu 10 anos depois, vítima desse boicote e de erros editoriais e comerciais que cometeu.

 

Paulo Maluf, quando governador de São Paulo, fez o mesmo com O Estado de S. Paulo, mas não conseguiu o seu desejo de acabar com o mais tradicional jornal brasileiro, que sobrevive até hoje. Quanto menos depende financeiramente do governo, mais a imprensa é independente. Vamos ver se a Folha tem essa independência para resistir a Bolsonaro.

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