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Inspirada em histórias de avós, escritora santarena lança livro sobre saga de mulheres amazônicas

Portal OESTADONET - 13/11/2019

O amor pelas palavras ela herdou da avó materna. Uma mulher ribeirinha e autodidata, que no auge da sua sabedoria, ensinou muitas crianças a ler e escrever no local onde ela morava. Aos 30 anos, a escritora santarena Monique Malcher, antropóloga, faz doutorado em Ciências Humanas, em Santa Catarina, pesquisando quadrinhos e literatura, se prepara para lançar seu primeiro livro. Uma obra literária que reúne vários contos sobre mulheres com diversos sentimentos. As histórias têm como personagens as avós, a mãe e outras pessoas que fizeram parte da sua infância. No livro, a autora destaca o choro da menina, a felicidade da mãe, a criatividade das idosas. Amores, decepções, violências, resiliência, sonhos.

 

O livro traz muitas histórias das mulheres da região Norte e de Santarém, cidade natal da autora que tem a família repleta de mulheres envolvidas com as letras, a maioria professoras como a mãe dela. Ela foca mais sobre as mulheres que marcaram sua vida, como as avós, sobretudo a avó materna, Dulce,  de quem herdou o amor pela leitura. A única menção de um homem na obra é um conto narrado por um personagem que escreve uma carta para uma mulher, já falecida, agradecendo o fato de ela tê-lo ensinado a ler e escrever depois de adulto. A mulher é a avó dela e o homem, o avô. O conto narra essa história, que ocorre na Ilha do Rato, lugar onde o avô trabalha construindo e pintando barco, quando ela era criança.

 

“A inspiração desse conto é a minha avó Dulce, que ensinou meu avô a ler e escrever, depois de adulto e essa história me marcou muito. Aí veio a inspiração para contar essa história”, lembra.

 

Monique Malcher é formada em jornalismo pela Unama e fez mestrado pela UFPA em antropologia. Agora, ela faz doutorado em ciências humanas em Santa Catarina.

 

 

O livro de estreia da escritora Monique Malcher é uma reunião de contos sobre dores e facas que cortam e perfuram a trajetória de mulheres com raízes em si mesmas. Já que a existência das mulheres não se dá só de uma maneira… esse florescer está em processo contínuo como as plantas, mas também sofrendo o arranque. A escrita de Malcher é inspirada nos diários das avós e nos poemas que troca desde a infância com a mãe.

 

“São as mulheres que estão ao meu redor, me ensinando e trocando histórias e conselhos comigo, que são minha inspiração. Quando quero gritar, chorar ou comemorar me sento na frente do computador para escrever. Escrevo regularmente todos os dias. Nunca estou sozinha, apesar de fisicamente parecer que estou”, afirma a escritora.

 

A Autora

 

Monique Malcher, tem 30 anos, paraense nascida em Santarém. É antropóloga e doutoranda em Ciências Humanas pesquisando quadrinhos e literatura. Escreve desde os dez anos de idade, já lançou produções independentes como as zines: Trinstona (2018), E a gente nunca mais se viu (2019) e Mas nem peixe? (2019). Além de manter uma newsletter que em apenas três meses ultrapassou 200 assinantes.

 

Também atua como colagista mesclando colagem digital e analógica. Até o início de 2020 estará tanto como colagista, pesquisadora e escritora em obras como: Mulheres e Quadrinhos (Editora Skript e Minas Nerds), Queer e Quadrinhos (Editora Skript e Mina de HQ), Emília 100 (Editora Skript e Carol Pimentel), Zine Poça #1 e Zine Coletivo Declama Mulher.

 

O Financiamento

 

Flor de Gume será lançado de forma independente pela autora através de uma plataforma de financiamento coletivo, o Catarse. A campanha começou no dia 8 de novembro e durará 45 dias. O financiamento coletivo funciona como uma pré-venda do livro. Com o orçamento arrecadado a autora fará a impressão dos livros e confeccionará as recompensas. Dentre as recompensas que serão enviadas, com frete grátis para todo o Brasil, estarão: adesivo, marcador de página, ecobag, poema exclusivo, agradecimentos no livro e cartazes da capa e das colagens que ilustram o Flor de Gume.

 

Link para o financiamento: https://www.catarse.me/flordegume

 

“Minhas avós eram mulheres muito artísticas. Uma era pintora e jogava tarô, a outra escrevia poemas e fazia remédios com ervas. Quis trazer esses saberes para o livro desde a capa até as colagens na parte interna. Meu interesse são os detalhes, o cotidiano de mulheres que não são retratadas por escritores”. A capa e contracapa espelhada foram feitas pela quadrinhista paraense Beatriz Miranda, que criou a imagem de uma mulher guardiã das histórias de todas essas personagens, que carrega nas mãos um facão e um galho de proteção. “Eu queria que o flor de Gume fosse mais que um livro, mas um artefato mágico”, brinca a autora.

 

“Fogão” e “Boca de lobo” trazem histórias inspiradas nas avós de Monique e nas viagens de barco que marcaram sua infância. A autora empresta alguns desses momentos para as personagens dos contos. Em “Fogão”, por exemplo, ela transcreve uma carta real da avó materna para servir de ponto de partida para o conto. Muitas histórias tem como personagens principais mulheres do norte, mostrando a relação delas não só com o interior, mas com o crescimento da cidade. Os contos também trazem temas como imigração, já que a autora vivenciou muitas vezes o ato de ter que mudar de cidade em cidade em busca de uma condição financeira melhor. A bissexualidade também é um tema presente em alguns contos.

 

“Todas as mulheres do Flor de Gume não são ricas ou tiveram uma vida que se considere confortável. Considero que seja um pouco de autoficção. Não quero vender a dor, mas é através dela que aprendi a falar coisas que nunca pude, que nunca consegui. Não quero dar voz a ninguém, quero mostrar que essas mulheres já tem voz, sou apenas um instrumento. É uma colagem de partes da minha vida, da vida de amigas, mulheres da minha família, noticias, invenções. A minha tela é feminina, tem dor, mas tem alegria também”, afirma Monique.




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