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BNDES na mira

Lúcio Flávio Pinto - 08/10/2019

Peguei só o final da entrevista dada pela manhã pelo secretário especial de Desestatização, Desenvolvimento e Mercados do Ministério da Economia, mas foi o bastante para causar preocupação. Salim Mattar disse que o governo Bolsonaro não privatizará o Banco do Brasil e a Caixa. Nada disse sobre o BNDES, o único banco de fomento do país. Quando o governo vende um banco desse porte, só inferior em ativos ao Banco Mundial, é porque tem boi na linha.

 

Mattar vem preparando terreno para plantar a alienação do BNDES, em seguidas declarações à imprensa. Disse que a gestão anterior deixou para atual um rombo R$ 196 bilhões de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Foi o maior financiador da Odebrecht, que deve R$ 27 bilhões. O rombo total do governo anterior, em todos os setores, seria de R$ 440 bilhões, segundo Mattar.

 

A entrevista radiofônica coincidiu com a publicação de uma notícia em O Globo de hoje, que reproduzo a seguir, como alerta à opinião pública.

 

A venda da carteira de ações do BNDES, uma das prioridades do presidente Gustavo Montezano, desencadeia a primeira grande crise entre a direção do banco e seu corpo técnico. A associação de funcionários do BNDES, a AFBNDES, organiza assembleia nesta segunda-feira para cobrar esclarecimentos sobre a demissão de Luciana Tito, que era superintendente da Área Jurídica Operacional e teria sido desligada por discordar da condução da estratégia de venda de ações pelo BNDES.

 

De acordo com a AFBNDES, as circunstâncias do afastamento "confirmam que a governança do banco está sob sério risco e nos deixa seguros sobre a necessidade de demandar publicamente explicações". Segundo os funcionários, a associação já havia tentado dialogar com a direção do banco sobre o assunto, mas não teve resposta.

 

Segundo relato de funcionários, Luciana não teria cedido às pressões da direção para incluir em uma oferta subsequente de ações do Banco do Brasil os papéis detidos pela União e que haviam sido transmitidos ao BNDES para que fossem vendidos.

 

A oferta do BB vai vender ações hoje detidas pela Tesouraria do próprio Banco do Brasil e também da carteira do Fundo de Investimentos do FGTS. De acordo com servidores do banco, Luciana alegou que regras internas inviabilizavam a inclusão do lote de ações da União na oferta, o que teria causado descontentamento no comando da instituição estatal de fomento. Além disso, a direção do banco teria tentando alijar a superintendência de Luciana da estratégia por trás da oferta.

 

"Se uma superintendente do Banco é afastada por não se dobrar a pressões que comprometeriam a governança da instituição, observamos, paralelamente, a manutenção de uma situação que parecia impossível no BNDES", criticou a associação em nota.

 

A AFBNDES também questionou os critérios técnicos do modelo que a direção do banco estaria planejando adotar para se desfazer dos mais de R$ 100 bilhões em ações detidos pela BNDESPar, seu braço de participações:

 

"As sinalizações são de que a atual gestão opta por saídas violando o conhecimento técnico do setor, como a preferência por utilização de venda de ações por 'oferta pública' em casos que seria indicado a 'venda em mesa'."

 

De acordo com a nota da associação, "a diferença entre as duas opções é que a primeira, oferta pública, implica em custos com comissões a bancos de investimento, além de um efeito de redução dos preços dos ativos vendidos."

 

"Por isso, ela é apenas recomendada quando o volume de ações a ser vendido é de um montante tão grande que a venda em mesa não se torna possível. Seja para vender ações do governo federal, seja para vender ações da BNDESPar, o que está em jogo é a responsabilidade com o patrimônio público", acrescentou.

 

Para os funcionários, a gestão de Montezano "não hesita em desrespeitar critérios técnicos e executivos" para atender as diretrizes do governo federal.

 

O GLOBO pediu posicionamento da direção do banco sobre as críticas, por meio de sua assessoria de imprensa, mas não teve resposta.




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