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Sai daí, Moro

Lúcio Flávio Pinto - 05/09/2019

Créditos: Foto: Veja

A melhor coisa que Sérgio Moro pode fazer por ele mesmo e pelo país é renunciar - e imediatamente. Seu embarque na nau de Bolsonaro foi desastroso. Mesmo que, ingenuamente, tenha considerado que valia a pena fazer parte desse governo para concretizar seus maiores projetos no combate à corrupção e à violência, sem dúvida o objetivo maior era se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal.

 

No exercício da carreira de juiz, ele não chegaria ao topo da magistratura por uma reação corporativa da elite do poder judiciário. Só através de um atalho. Como esse atalho dependia da vontade do presidente da república, Moro perdeu o rumo e começou a destruir a sua reputação como um dos mais importantes juízes da história brasileira.

 

Neste momento, qualquer outra atitude dele, que não seja a renúncia, representará a continuidade na posição oportunista,, dependente da conjuntura. Está mais do que evidente a intenção de Bolsonaro de se livrar do seu ministro da justiça e da segurança pública. Esse desejo vai se acentuar com a divulgação do resultado da pesquisa de opinião. Dando ao ministro quase o dobro da aprovação do presidente (54% a medíocres 29%), ela vai fazer borbulhar a química venenosa da família nos seus laboratórios subterrâneos (que agora estão sendo devassados, revelando suas ligações com o crime).

 

A renúncia se impõe a Moro por razões mais elevadas. Como ele pode continuar a integrar um governo sem o mínimo de civilidade para existir internacionalmente e para ter credibilidade nacional, ser considerado e respeitado, capaz de apoiar uma ditadura, como a do general Pinochet, repudiada integralmente pelo próprio povo chileno, tanto por sua esquerda como por sua direita, a tal ponto que fez o conservador presidente, Sebastián Piñera, aliado (já ex?) de Bolsonaro, dar uma resposta dura?

 

Diante de um governo que desce velozmente ao pior ambiente da república desde que ela existe, os porões da tortura institucionalizada pelo Behemoth estatal, se ficar onde está, avaliando a temperatura, o movimento do ar e o horizonte climático para decidir o que fazer, Sérgio Moro se destruirá de vez. Saindo, poderá retomar o fio da meada que deixou engatada em Curitiba. E voltar a dar a sua contribuição para que o Brasil retome a trajetória democrática e, quem sabe, chegue aonde está o Chile, que andou muito mais rápido depois de sepultar a sua ditadura, bem pior do que a nossa.




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