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Declínio de rádio e TV e disseminação do ódio marcam uso das redes sociais nas eleições de 2018. Análise de Paulo Lima, Raimunda Monteiro e Ana Negreiros

Weldon Luciano - 06/10/2018

A propaganda eleitoral nas redes sociais  se encerrou sexta-feira, 5 de outubro, de acordo com o calendário eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O uso intensificado destas ferramentas, o declínio do poder da rádio e TV e a baixa qualidade dos debates refletindo na disseminação do ódio entre eleitores de lados opostos marcaram o período. A análise da disseminação de notícias falsas na internet é feita pelo professor de Jornalismo Digital do curso de Comunicação Social do Instituto Esperança de Ensino Superior, Paulo Lima, e pela professora e jornalista Raimunda Monteiro. Também conversamos com a servidora pública Ana Charlene Negreiros, que atua na militância contra as fake news das redes sociais.

“Há muito mais profissionalismo hoje em dia no uso das redes sociais, mas ainda temo pisadas éticas. Foi uma campanha de muita agressão. Ficou evidente que a força da mídia televisiva está abalada, especialmente nas eleições majoritárias para presidente, o candidato que tinha o maior tempo de programa eleitoral está perdendo, vem apresentando índices baixos nas pesquisas, perdendo espaço para quem só está usando as redes sociais. O horário eleitoral gratuito de TV não forma mais a opinião. A tendência é que as coisas passem mais pela internet. ”, diz Paulo Lima.

Raimunda Monteiro é taxativa: ” O problema do Brasil é  que  setores de um centro-direita estranho e de matiz  autoritário perdeu a condição de agregar  indignados  da direita  (setores anti-distributivos e  movidos mentalmente pelo pacote de conteúdos das TVs abertas e dos Meios  de Comunicação do sistema).  Esse setor, infelizmente , não  aceita diálogo e se entrincheira num escudo  de ódio por uma causa  que é  das classes  abastadas.”

Para Ana Charlene Negreiros, as redes sociais constituem a principal ferramenta da qual as pessoas se valem na hora de se informar e decidir em quem irão votar por representar o meio de difusão de informações mais acessível, utilizadas inclusive para desinformar. “É justamente por isso que acabam sendo um método de difusão das Fake News, porque as bolhas sociais, aquele meio em que circulam as informações de determinado grupo, são aparentemente confiáveis e nem sempre as pessoas têm acesso ao contraponto, a uma realidade mais ampla fora daquele microcosmos cibernético, não conseguem ver fora da bolha.

O professor Paulo Lima considera que o mais problemático dos recursos digitais ainda é o aplicativo de mensagens instantâneas Whatsapp. Facebook e Instagram também se mostraram bastante utilizados influenciando seus seguidores, mas a presença de robôs ainda causa interferências na conectividade “O Whatsapp é muito poderoso, mais invasivo e direcionado aquela pessoa que vê sozinha em seu telefone, de uma forma mais intimista. O Facebook deve ter ganho muito dinheiro, gerando um algoritimo redondo para a economia do próprio Facebook. Há uma sensação de fortalecimento das bolhas, aonde os caras foram muito competentes. O Instagram é superpoderoso por parecer uma televisão e vem crescendo nesta eleição, sendo o que mais cresce. Ele tem um formato de comunicação das lives parecidos ao do Facebook”.

“Multiplica mentiras hediondas sobre  o adversário demonstrando um aperitivo  do que virá  como ethos de governo.  O nazismo e o fascismo  batem em nossos celulares a cada minuto e grande parte de nossos  amigos  inocentes  acham  que  se trata de brincadeirinhas para castigar  o adversário”, constata, indignada Raimunda Monteiro.

Segundo Paulo Lima, o Twitter se mostrou uma ferramenta bem mais interessante para o debate político, mesmo com a repercussão de notícias falsas por alguns usuários, é possível ter contato com grandes jornalistas e meios de comunicação usando o espaço virtual de forma mais responsável. Ele conseguiu tirar mais robôs do que o Facebook, por exemplo.  A baixa qualidade dos debates e a ausência de um código de ética que regulamente a utilização das redes acabou contribuindo para a grande quantidade de troca de acusações de omissão incompetência e de discurso inadequado, ao invés de debater proposta.

“Não temos no Brasil, no currículo escolar uma formação em comunicação e uso de redes. O jovem recebe um telefone com acesso a todas essas redes e sem conhecer os códigos e se comporta como se estivesse em um estádio de futebol. Estamos vivendo um momento muito truculenta, aonde as pessoas não querem debater, elas só querem ser reconhecidas por ter derrubado mais um, o que gera um pensamento pouco democrático. A plataforma se adapta a qualquer discurso”, observa Paulo Lima.

Ana Negreiros analisa que em 2018 uma a quantidade de postagens ofensivas e muitas pessoas saindo do debate e partido para a agressão, acabou sendo maior do que nas duas últimas eleições. “É um fato preocupante, porquanto se as agressões permanecessem nas telas, seria algo possível de combater com informações verídicas. Porém, já se verifica situações de agressões diretas, pessoais e até físicas. É quase que um ciclo vicioso, onde as Fake News alimentam o acontecimento de um fato social inédito, porque nutrido através do meio cibernético, mas com claros sintomas de outros momentos históricos onde uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Nós já vimos isso acontecer no século passado e as consequências foram devastadoras”.

Sobre o Fake News, Paulo ressalta que houve uma grande contraofensiva da grande mídia. Todos organizaram algum mecanismo para checagem de fatos. “Elas estão correndo mais no Whtasapp por você não ter muito o controle de qual foi a fonte. No Twitter e no Facebook elas estão apanhando mais, pois as pessoas já estão mais ligadas e podem dizer que aquilo é falso rapidamente. Não tenho nenhum exemplo de que podemos verificar que uma notícia por ser falsa prejudicou algum candidato. Nem mesmo a facada no Bolsonaro fez com que ele aumentasse 50 %. A progressão das pesquisas está seguindo uma sequência meio lógica e não são alteradas por algum fato”.

Sobre este tema, Raimunda Monteiro escreveu um artigo, cujo link de acesso é este AQUI.




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