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Rosélio da Costa Silva - Memorial 11 de setembro

09/09/2017

Dias atrás estive no Memorial 11 de Setembro no sul da ilha de Manhattan. Já são 16 anos do atentado às Torres Gêmeas. O local das tragédias parece guardar em suas entranhas um código de barras capaz de resumir, silenciosa e resignadamente, a dimensão da dor que abriga.

As torres gêmeas do Trade Center, destruídas pelo impacto de dois jatos sequestrados em nome do terrorismo, eram impressionantes como desafio da engenharia, como símbolo do capitalismo e como marco de uma época.

A torre nova, conhecida como ONE WORLD TRADE CENTER ou simplesmente 1WTC, é a maior do hemisfério ocidental e está entre as 6 mais altas torres do planeta. Iniciada em abril de 2006, foi entregue em 2015 e seus 1776 pés de altura (cerca de 451 metros) fazem homenagem ao ano da assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos, ocorrida em 1776! Foi a resposta da América, rápida, à dura agressão sofrida: nós podemos fazer!

No lugar das duas torres originais, foram construídas duas piscinas. Juntas, seriam do tamanho de um campo de futebol. Em cada uma delas, uma queda d’água . É a maior queda d’água da América do Norte. A água sai da borda interna da mureta na altura do peito, como se saíssem de tubetes colocados um ao lado do outro, tomando toda a borda interna da piscina quadrada, e escorre por 10 metros pela parede interna até um grande assoalho de granito formando uma lâmina de água e depois despenca num buraco central.

É uma simbologia espetacular: nossas lágrimas derramadas rosto abaixo e, depois, sepultadas em algum lugar do nosso interior. É uma nova Estátua da Liberdade, em seu simbolismo, e seu parapeito é a tabula ansata que lista as vítimas fatais da tragédia. Ali, nessa placa de metal que recobre a mureta, parentes, conhecidos e desconhecidos de todas as partes do mundo, de todos os credos, depositam suas saudades, seus respeitos... É um canteiro de lembranças.

É uma forma de chorar sobre concreto mostrando que somos homens e que podemos derreter a dor em lágrimas mas que o desafio de resistir é tão tenaz quanto o concreto. Aquela água escorrendo diz do pranto da América para os olhos do mundo diante da barbárie.

Talvez isso não se repita jamais mas, com certeza, nem as traças do tempo consumirão a imagem da tragédia. Resistir é o nome do jogo. E o exemplo mais eloquente é a Capela de Saint Paul: inaugurada em 1766, resistiu ao grande incêndio de setembro de 1776 e ao desabamento das torres gêmeas em setembro de 2011 sem nenhum dano, nenhum painel de virdro quebrado, logo ali, do outro lado da rua, graças a uma figueira solitária que defendeu a Capela de 250 anos!

Mais adiante, ali próximo, no Battery Place, o Museu do Holocausto, mostra outra barbárie da história e, de novo, duas piscinas, menores, com o mesmo princípio, mesmo significado, como código de barras a preservar a dimensão e a dor da tragédia.


Nova York, 21 de agosto de 2017.




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