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Adeus, Belém do Pará
Talvez a mais famosa (e também a melhor) música já composta com temática em Belém do Pará não foi criada por um belensense ou paraense, mas pelo baiano Dorival Caymmi. Trata-se de Peguei um Ita no Norte. Ele a compôs em 1945, com 31 anos, no Rio de Janeiro, então a capital brasileira.
Caymmi também pegou um Ita no Norte (para os moradores do Sul/Sudeste, Norte e Nordeste eram a mesma coisa), mas em Salvador, quando tinha 23 anos. Ita era o nome de um tipo de navio da Companhia Nacional de Navegação Costeira. Até a década de 1950, eles transportavam cargas e passageiros em todo o litoral, sobretudo nortistas/nordestinos, atraídos pelas luzes da mais bela capital do mundo até 1960.
O Itas (que em tupi-guarani significam pedra) eram 14, dos quais 12 foram construídos no Brasil: Itapuca, Itagiba, Itaité, Itanagé, Itassucé, Itapura, Itaquatiá, Itaipé e Itapagé. O Cantuária e o Itaberá, também pertencentes à frota, foram construídos em estaleiros estrangeiros.
Havia três tipos básicos de Itas: os pequenos, com cerca de 60 metros de comprimento; os médios, com 80 a 90 metros, para cerca de 140 passageiros; os grandes, com 110 a 120 metros de comprimento, para até 280 passageiros distribuídos em três classes: 1ª, 2ª e 3ª.
Os principais portos servidos por estes navios eram os de Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, Cabedelo, Recife, Maceió, Penedo, Aracaju, Salvador, Ilhéus, Vitória, Rio de janeiro, São Sebastião, Florianópolis, Rio Grande e Porto Alegre.
Como a maioria dos migrantes, o personagem de Caymmi deixa a sua terra nata imaginando que um ano depois, bem-sucedido, voltaria a Belém. Dez anos depois ele reconhece que nunca mais sairá do Rio. Assim, na maiori dos casos, as regiões mais pobres do país perdiam muitos dos seus melhores quadros, suficientemente capazes de vencer na disputa por um lugar ao sol na capital (lugar para ocupar também nas paradisíacas praias da cidade, principalmente em Copacabana, a “princesinha do mar”).
Peguei um Ita no Norte
OUÇA AQUI
Peguei um "Ita" no norte
Pra vim pro Rio "morá"
Adeus meu pai, minha mãe Adeus, Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai Adeus, Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai Adeus, Belém do Pará
Vendi meus "troço" que eu tinha
O resto eu dei pra "guardá"
Talvez eu volte pro ano
Talvez eu fique por lá
Mamãe me deu um conselho
Na hora de eu "embarcá"
Meu filho, ande direito
Que é pra Deus lhe "ajudá"
Ai, ai, ai, ai Adeus, Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai Adeus, Belém do Pará
Peguei um "Ita" no norte
Pra vim pro Rio "morá"
Adeus meu pai, minha mãe
Adeus, Belém do Pará Tô a bem tempo no Rio
Nunca mais voltei por lá
Pro mês "intera dez anos"
Adeus, Belém do Pará Ai, ai, ai, ai
Adeus, Belém do Pará Ai, ai, ai, ai Adeus, Belém do Pará.
(Acordei com uma sensação de melancolia da Belém do Pará à qual cheguei, em janeiro de 1955, aos 5 anos de idade, emigrante de Santarém, transportado por um navio bem menor do que os Itas. De bordo, vi o belo porto da metrópole da Amazônia em fim de tarde, a avenida Getúlio Vargas, o movimento dos carros, o Hotel Avenida (nosso primeiro pouso) e uma cidade encantadora, hoje invisível.)