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Plantio de juta, um mundo ignorado
Corte da juta em área alagada pela enchente do rio Solimões(AM) -
Créditos: Reprodução/Globo Rural
Fiquei agradavelmente surpreso de ver uma reportagem sobre o cultivo de juta na várzea do rio Solimões, no Estado do Amazonas, no Globo Rural de ontem. O tema não faz parte da agenda da imprensa local há muitos anos. Ou, para não cometer recado (venial), não li ou vi , nos últimos longos anos, nenhuma abordagem dessa cultura. Introduzida por imigrantes japoneses, ela está se tornando centenária e remanesce da economia dominada pelo extrativismo vegetal, anterior ao ciclo das estradas de integração nacional, com o predomínio do extrativismo mineral e suas extensões pré-industrialização.
É impossível não tomar um choque de (anti)civilização diante das imagens exibidas pela equipe da TV Globo, que saiu de Manaus e foi ao local. Seres humanos passam semanas cortando a planta, boa parte do corpo sob as águas do rio, a cabeça exposta ao sol forte, mergulhando para fazer o corte na raiz, mergulhos mais demorados quanto maior é a lâmina d1água, como agora. com o nível do rio beirando os 20 metros e a um metro do recorde em vigor da enchente. É trabalho servil, quase escravo; em qualquer circunstância, desumano, cruel.
Reprodução: Globo Rural 22.05.2022
A situação mudaria um pouco se todos os juteiros cadastrados recebessem do governo equipamentos de natação: óculos, touca, luvas e roupa impermeável para trabalhar sem sofrer tanto o desgaste das condições ambientais adversas ou agressivas. Claro: com suporte para comercializar sua produção, sem ser escalpelado pelos atravessadores.
Durante alguns anos percorri as várzeas entre Santarém e Alenquer para matérias sobre o mundo anual das enchentes no Baixo-Amazonas, na maioria das vezes na companhia do jornalista Manuel Dutra. Publicava as reportagens em O Liberal e O Estado de S. Paulo. Nesse período, o jornal da família Mesquita "cobria" a Amazônia muito melhor do que toda imprensa da região.
Ao acompanhar a matéria do Globo Rural, foi impossível não ter um gosto travo de tristeza. A consciência coletiva entre nós involui, com a poderosa contribuição da imprensa dita amazônica.