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Pesquisa pode mostrar por que não há regularidade no estoque de remédios do SUS em Santarém

Sílvia Vieira, Repórter do Portal OEstadoNet - 13/03/2016

Créditos: Professor Wilson Sabino e os alunos da UFOPA Matheus Malveira Vaz, 8º semestre do curso de Farmácia e Amanda Silva de Miranda, do 2º semestre de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde,

Um projeto de pesquisa coordenado pelo professor Wilson Sabino, do Instituto de Saúde Coletiva (Isco) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) com a participação de alunos dos cursos de Farmácia e Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, quer saber se existe uma sazonalidade no que diz respeito aos recursos no financiamento da saúde pública no município de Santarém. De uma forma mais específica, no que diz respeito à assistência farmacêutica, para ver se essa sazonalidade tem alguma conexão com a falta de financiamento do governo federal e governo estadual, e, se isso implica em algumas ações também no município de Santarém.

O projeto já está em andamento e nesse início dos trabalhos está sendo feito todo um levantamento do contexto histórico, com referências bibliográficas, para então adentrar na coleta de dados dos recursos investidos na assistência farmacêutica.

“Para a coleta de dados nós usamos sempre o bando de dados oficial do governo federal que disponibiliza isso para qualquer pessoa. Pelo nosso cronograma, nós daremos início a essa parte do trabalho nos próximos dois meses, com um levantamento que possivelmente leve aí cerca de três meses, mas a análise, para que possa então ser feita uma discussão desses resultados. Essa pesquisa vai levantar dados entre os anos de 2011 e 2015, que possivelmente têm os dados já consolidados”, explicou o professor Wilson Sabino.

A princípio, esse é um projeto base que busca entender um pouco o processo de financiamento da saúde. Mas, há também um trabalho de capacitação junto a alunos da rede pública, que será realizado pela aluna Amanda Silva de Miranda, do 2º semestre do curso de Bacharela Interdisciplinar em Saúde. A unidade escolhida para receber as ações do projeto é a Escola Álvaro Adolfo da Silveira, para capacitar os alunos no processo de cidadania no âmbito da saúde.

“A partir do momento em que nós começamos a entender um pouco a questão de financiamento, nós também podemos estar ajudando esses alunos do Álvaro Adolfo, por exemplo, a ver que eles têm direito à saúde, como qualquer outro cidadão, e que existe uma coisa chamada Conselho Municipal de Saúde aonde eles podem participar levando suas demandas e suas dúvidas”, destacou o professor.

Sobre a escolha do tema da pesquisa, Wilson Sabino disse ao Portal O EstadoNet que a forma como é feita a aplicação dos recursos destinados à saúde pública é uma coisa que intriga a todos, como cidadãos comuns.

A pesquisa quer responder, por exemplo: Qual o motivo da falta de medicamentos em determinados períodos do ano? Porque que em alguns anos nós temos medicamentos e em outros parece que não tem financiamento para o medicamento? Existe uma questão de privatizar também a questão dos medicamentos? Vamos chegar a um momento em que a questão do medicamento para a população vai ser totalmente privatizado?

“Nós sabemos que não é um problema só do Brasil, é um problema mundial no que diz respeito ao financiamento do medicamento. Isso tá muito ligado com o processo que nós chamamos de privatização do Sistema Único de Saúde. Porque quando se precariza essa situação favorece um sistema, e é o sistema privado que se torna favorecido e isso tudo tem uma conexão como estado neoiberal que vem sendo implantado. O estado neoliberal tem uma doutrina clara que é a seguinte: minimizar a ação do Estado com as questões sociais. E a saúde está inserida nas questões sociais e aí, então, todo esse processo acaba nos intrigando. Essas são as perguntas que nós acabamos fazendo”, observa Wilson Sabino.

Cidadania

Para Matheus Malveira Vaz, aluno do 8º semestre do curso de Farmácia, da Ufopa, e que está trabalhando no projeto, a grande importância da pesquisa em si está em analisar a possível conexão entre o aumento dos gastos com aquisição de medicamentos em determinados períodos do ano, e fazer um balanço de como está essa questão da privatização do medicamento, fazendo um paralelo com toda a questão histórica, que o Brasil veio passando até por conta das influências externas de instituições financeiras internacionais que vêm querendo direcionar as políticas nacionais.

“Nesse processo, a gente precisa analisar muito bem como está sendo feito isso, em que pé está esse processo para que realmente a gente chame atenção das pessoas, para que dessa forma a consciência de cada um esteja atenta a um processo que existe. A gente espera que esse projeto venha trazer conhecimento para as pessoas, inclusive dos seus direitos e das questões sociais, estimulando assim, a prática cidadã”, frisou.

Matheus lembra que a lei de acesso à informação do sistema público possibilitou o acesso do cidadão às informações sobre o volume de recursos destinados e aplicados, só que as pessoas não estão se apropriando disso. Por isso é necessário estimular cada um a fazer sua parte como cidadão. Fiscalizar e acompanhar como o dinheiro público é aplicado vai gerar um ganho tremendo para a sociedade, futuramente”.

Amanda Silva de Miranda, do 2º semestre de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, ressalta que projeto é de grande importância para despertar a consciência crítica dos cidadãos, pois é sabido que a população não é tão ativa quando se trata de lutar pelos seus próprios direitos. “Todo mundo sabe que precisa, mas ninguém vai atrás para que aquilo aconteça de forma efetiva. Então a gente começou a trabalhar com os jovens nesse momento em que ocorre a formação da personalidade, da massa crítica, e a gente busca trabalhar para que eles possam lutar pelos seus direitos dentro do Conselho Municipal de Saúde que é o lugar onde acontece o controle social. A gente tenta sensibilizá-los dessa situação para que eles possam mostrar suas demandas. Que através dessa capacitação elas buscar melhorias para a própria escola”, relatou.

De acordo com Amanda, no primeiro contato com os alunos da escola Álvaro Adolfo, houve uma receptividade muito grande quando se começou a abordar a questão da saúde. “Os alunos se mostram muito interessados, como se trata de uma escola pública que a gente sabe que a estrutura por vezes é deficitária, eles saberem que podem participar do controle social em vários âmbitos é muito bom”, finalizou.




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