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Doença de Chagas: Santarém registrou 8 casos em 2017 e contágio é associado ao consumo do açaí

Weldon Luciano - 15/10/2018

A doença de Chagas, transmitida pelo Trypanosoma cruzi, parasita encontrado nas fezes de insetos, incluindo o barbeiro, tem sido a causa de mais de 4 mil mortes por ano no Brasil. A contaminação ocorre a partir da picada ou da ingestão de produtos contaminados. No Pará, estado que concentrou mais da metade dos registros no país em 2018, o contágio tem sido associado cada vez mais ao consumo do açaí. Os casos na forma aguda, a única de notificação obrigatória, mais que dobraram de 2010 a 2017, passando de 136 para 356 no país.

De janeiro a dezembro de 2016, Santarém recebeu 112 notificações da doença de Chagas. Destas, 102 foram descartadas e 10 confirmadas. Já em 2017, de janeiro a setembro foram 47 casos notificados, 39 descartados e 8 confirmados no município, segundo dados da Divisão de Vigilância Epidemiológica. Nos últimos 12 meses, nenhum caso de surto foi registrado na área urbana, apenas casos isolados na área rural.

Segundo o Ministério da Saúde, a média anual era de 200 casos, número que tem sido superado desde 2015. De 30% a 40% dos pacientes desenvolvem a forma crônica da doença, com complicações cardíacas e digestivas. Não há número precisos de doentes crônicos, mas a pasta estima que haja de 1,9 milhão a 4,6 milhões de brasileiros nessa condição. Com relação aos mortos, em 2010 foram 4.876 e em 2016 4.461.

No mês de agosto, o Instituto Evandro Chagas (IEC) confirmou dois surtos em fase aguda de doença de Chagas no município do Acará, no nordeste do Pará. Ao todo são 18 casos de doença, sendo que uma pessoa morreu. Em 2018, as autoridades já registraram 231. Ainda que a transmissão possa ocorrer por outros alimentos, como a cana de açúcar, no Pará a doença está muito associada ao açaí. Na época da safra, no segundo semestre, os casos aumentam. A transmissão oral preocupa, por causar mais óbitos (cerca de 5%).

Um dos desafios é evitar a subnotificação. Há um desconhecimento de médicos sobre Chagas, mesmo em áreas endêmicas, e muitos pacientes não apresentam sintomas, nem mesmo na fase aguda. No Pará, cerca de 25% são assintomáticos. O ciclo da doença movimenta uma grande quantidade de pacientes que precisam se deslocar de uma cidade para outra em busca de tratamento. O Ministério da Saúde afirma que os repasses de Tratamento fora de domicílio (TFD) para o estado foram de R$ 82,2 milhões desde 2016. A pasta diz que o número de médicos no Pará cresceu 36% em sete anos.

A principal forma de evitar a expansão da doença, segundo especialistas, é melhorar as práticas de higiene do açaí. Uma delas é eliminar o parasita é o branqueamento, que consiste em mergulhar o fruto em água a 80°C por dez segundos e, em seguida, jogar na água fria para um choque térmico.

Em 2012, após um decreto estadual, a prática passou a ser obrigatória para batedores artesanais. A prefeitura de Belém, em parceria com o Governo do Pará, criou um selo de qualidade, o Açaí Bom, para vendedores que seguem as regras de higiene. O Programa Estadual de Qualidade do Açaí também promove capacitações para batedores no interior. Segundo a Divisão de Vigilância sanitária, regularmente tem sido feito cursos de boas práticas junto a batedores artesanais, que aprendem a realizar o processo de branqueamento. O maior risco está no açaí que é batido fora da cidade sem o devido controle e é comercializado. Para coibir estes casos, a vigilância tem reforçado a fiscalização em diversos pontos espalhados pelos bairros da cidade.




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