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Um ano após fluxo migratório, Santarém não registrou casos de violência contra venezuelanos

Weldon Luciano - 27/08/2018

Menino Warao faz pequenos serviços domésticos no abrigo em que os refugiados venezuelanos estão instalados em Santarém -

Em Santarém, oeste do Pará, o fluxo migratório de venezuelanos completa um ano e até a última semana de setembro não houve registro de violência cometida contra eles, de acordo com as autoridades. Segundo um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtras), atualmente, são 54 venezuelanos vivendo no abrigo municipal, sendo 50 deles indígenas e outros quatro civis.

“Nunca chegou ao nosso conhecimento e nem nas instâncias que acolhem eles nenhum caso de violência ou hostilidades ou rejeição da sociedade. Em relação a outros lugares a recepção deles em Santarém acaba sendo muito boa. Muitas pessoas até realizam doação de alimentos. É um município grande, mas que possuem características de socialização menos urbana, com pessoas mais acolhedoras”, diz Dasssuem Nogueira, antropóloga que acompanha os venezuelanos em Santarém.

Desde setembro de 2017 quando a SEMTRAS passou a acompanhar a presença deles, pelo menos 250 deles já passaram por Santarém. Os indígenas que vivem em Santarém são compostos por dois grupos sendo um vindo da região de fronteira entre a Venezuela e Trinidad e Tobago e o outro vindo da cidade de Tucupyta, nas proximidades do Rio Orinoco. Ao todo, são 11 homens, 6 mulheres, 7 idosos (4 homens e 3 mulheres), 11 adolescentes (2 rapazes e 9 moças) e 15 crianças (9 meninos e 6 meninas). A Etnia Warao é a maior da Venezuela, com uma população estimada em 49 mil indivíduos. O grupo formado por não indígenas, é composto por 3 homens e 1 mulher.

Quanto ao trabalho, os Warao não possuem tanta ligação com a produção agrícola. A maior parte deles consegue tirar o sustento por meio de trabalho braçal, atuando como carregadores de mercadorias em mercados ou desempenhando serviços gerais. Em sua maioria, as mulheres vão às ruas para pedir dinheiro. Isso caracteriza um grande dilema, pois é considerado pelos indígenas como uma forma de trabalho e em muitas vezes estas mulheres realizam a atividade com crianças, o que pela legislação brasileira é uma situação de risco. Aqueles que não trabalham ficam no abrigo desempenhando tarefas domésticas ou artesanato.

Metade do grupo está em idade escolar e a partir de 2019 eles devem ingressar na rede municipal de ensino. A escola que provavelmente deve recebê-los será a escola Eloina Colares, localizada no Bairro Ipanema. A SEMTRAS e a SEMED ainda estudam um planejamento de ensino a ser traçado para atender os venezuelanos. Muitos já aprenderam a se comunicar em português, mas não são alfabetizados.

“Acho que vai ser muito positivo. Fomos conhecer como é o abrigo em Manaus pra saber como foi a experiência de escolarização deles por lá. Sempre há um receio, por ser um povo indígena, de que deveria ser uma educação diferenciada. Mas,  a situação deles é considerada peculiar em relação aos povos indígenas brasileiros. Não há uma terra indígena específica para atender esta comunidade e a socialização é muito melhor entre as crianças porque elas passam a se desenvolver melhor. Aqui em Santarém eles já estão em processo de ambientação escolar com atividades dentro do abrigo e ano que vem, provavelmente, vão ingressar nas escolas. As crianças em período de alfabetização entrariam em idade regular dentro do processo educacional. As maiores, que não tiveram experiência com escolas ou não foram alfabetizadas, a gente ainda vai estudar uma maneira de inserir no sistema educacional para que elas não sofram com desempenho escolar inferior ao das crianças que estão na mesma série correspondente a idade dela”, conclui a antropóloga Dassuem Nogueira.




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