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O Pará que se esvai

Lúcio Flávio Pinto - 13/08/2018

O maior trem de carga do mundo, com sete quilômetros de extensão, faz 10 viagens diárias entre a Serra de Carajás e o porto da Ponta da Madeira. Leva cada vez mais minério, cada vez mais rico, na direção do oceano, com destino final na China. Fica o que no Pará?

A paralisação do Brasil por 12 dias em maio, provocada pela greve (ou locaute) dos caminhoneiros, abalou toda a economia nacional. Prejudicadas pela falta de circulação, as empresas declararam força maior para postergar seus compromissos, pagando os custos dos atrasos. A mineradora Vale foi uma rara exceção a esse quadro geral de retração, principalmente para as maiores corporações do país.

O sistema logístico da empresa é de tal magnitude que ela contornou os bloqueios nas rodovias através das suas ferrovias, que estão entre as maiores do país, principalmente no sentido oeste/leste, do interior para o litoral, sincronizando as atividades das suas unidades de produção. Não só não teve perdas como cresceu.

No segundo trimestre deste ano a antiga estatal bateu seu recorde, tanto de produção quanto de venda de minério de ferro, concentrada nas exportações, especialmente para a China. Seu valor de mercado bateu em 300 bilhões de reais, superando o Itaú e a Petrobrás. Ficou abaixo apenas da cervejeira Ambev. Em dólares, foi a 73 bilhões, apenas sete a menos do que as duas maiores do mercado, a BHP Billiton e a Rio Tinto, com US$ 80 bilhões cada uma.

A tendência, porém, é favorável à mineradora brasileira. Seus papéis tiveram rentabilidade maior do que as duas concorrentes e prometem manter seus índices. A mina S11D, em Carajás, que custou US$ 14 bilhões, entrou em operação no passado. Já é a segunda mina mais produtiva da Vale, com 14 milhões de toneladas no último trimestre, abaixo das minas de Serra Norte e Leste, também em Carajás, que geraram 32 milhões de toneladas, mas acima de Itabira, em Minas Gerais, com 10 milhões.

No 1º semestre deste ano, o sistema Sul e Sudeste produziu 100 milhões de toneladas contra 87 milhões de toneladas de Carajás. Mas no 2º trimestre a proporção se inclinou para a extração no Pará, que produziu 46 milhões de toneladas contra 50 milhões de toneladas em Minas Gerais, tradicional fonte de minérios e líder absoluta até surgir Carajás.

Enquanto o chamado Sistema Norte cresceu 11,4%, o incremento total da produção da empresa foi de 5,3% no último trimestre, apontando para a direção da nova liderança em minério de ferro, que porá fim a um longo reinado de Minas. É consequência de uma das estratégias adotadas pela Vale depois da sua reestruturação societária, no ano passado, para se livrar da canga política que interferia na sua gestão, agravada nos governos petistas.

A empresa quer reduzir progressivamente a produção de minério de ferro de baixo teor e dar preferência aos produtos que classifica como premium: pelotas, minérios blindados, pellet feed, sínter feed de baixa alumina – e Carajás. O minério pobre, que representava 77% do total no ano passado, neste ano já caiu para 68%. E persistirá nessa tendência.

O minério de fero paraense possui teor de 65% de hematita pura contra 62% do australiano, que é o padrão de valor no mercado internacional. Graças ao prêmio de qualidade, a Vale ganhou US$ 114 milhões a mais no 2º trimestre.

Significa que rapidamente o S11D se pagará integralmente em curto prazo, começando logo a mudar o perfil dos produtos da Vale e contribuindo para a sua maior rentabilidade, com reflexos sobre o seu valor de mercado e a cotação dos seus papéis em bolsas do mundo inteiro.

A melhoria da qualidade do produto não implicará em redução do volume físico da produção. Pelo contrário. No 1º semestre a Vale extraiu 178 milhões de toneladas. A previsão para o 2º semestre é de 200 milhões, mas poderá ir além, superando a meta de 390 milhões de toneladas. Para que a operação seja possível, o trem de cargas de Carajás foi duplicado. Passou de 330 para 660 vagões, de 3,5 mil metros para 7 mil metros de extensão, o maior do mundo, superando os rivais australianos.

Agora, cada trem pode carregar 68 mil toneladas. Com 10 viagens diárias, são 680 mil toneladas. Em um ano, 230 milhões de toneladas. Ao preço de US$ 50 a tonelada, abaixo do que está sendo praticado no momento, são mais de US$ 11 bilhões (em torno de R$ 40 bilhões). Ou US$ 34 milhões, na forma do melhor minério de ferro do mundo, saindo todos os dias pelo super-trem. Uma montanha de ferro sendo carregada de Carajás para o exterior, com destino principal na distante China. Cada vez mais minério, cada vez mais rico.

Este é o tamanho da Vale no Pará. Qual o tamanho do Pará na visão da Vale?




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