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Copa do Mundo: Voltou a era Dunga?

Lúcio Flávio Pinto - 18/06/2018

Créditos: Gol de cabeça da Suiça, lance em que a defesa brasileira reclama falta do atacante sobre o zagueiro Miranda. Foto: Portal R7

Todo brasileiro é técnico de futebol.  Não sou exceção. Talvez com um pouquinho mais de legitimidade do que a média porque já bati bola em campo (peço o aval mais antigo do Palmério Dória e mais recente do Guilherme Augusto, dentre outras testemunhas), tanto de grama e areia quanto de futebol de salão. Até a Copa do Mundo de 1970, acompanhei os jogos com caderno e caneta ao lado para fazer anotações. Menino, fornecia informações para o plantão da Rádio Clube. Sabia de cor times completos do Brasil e do exterior. Portanto, não sou exatamente um neófito, embora, muitas vezes, um desiludido - ou desanimado - principalmente por aqui. Nunca mais fui a um estádio em Belém.

Se tivesse nascido cinco ou seis anos antes de 1949, minha data natalícia, teria tomado conhecimento da existência do futebol  como um vira-lata, na expressão de Nelson Rodrigues, traumatizado pelo fracasso de 1950 e a reprise de 1954, apesar do altíssimo nível das duas seleções. Desabrochei para o esporte na Copa do Mundo de 1958, que acompanhei colado a um aparelho de rádio. Interesse renovado na Copa seguinte, no Chile.

Isto posto, manifesto meu espanto pelo que aconteceu ontem na Rússia. O maravilhoso gol de Philipe Coutinho parecia ser o abre-alas para mais uma exibição da era Tite, que deslumbrou o Brasil. Aos poucos, porém, o ambiente foi mudando e um espetro se apresentou: a era Dunga. Os jogadores varriam o campo, se arrastando de um lado para outro, sem criatividade, sem vibração, desinteressados, mal acostumados às glórias, mimados e voluntariosos, primas donas numa distorção de valores que mina o equilíbrio dos atores de produção da vida nacional. Um dos símbolos da era Tite se transformou no pregoeiro do retrocesso: Neymar.

O próprio treinador parecia anestesiado, hipnotizado pelo ectoplasma de Dunga, preso ao seu banco, a contrafação do treinador cheio de energia e liderança, que comandava, como um verdadeiro amestro, à beira do campo seus afinados intérpretes, que viraram fantasmas, sombras desfeitas deles mesmos. A seleção brasileira de futebol voltara a ser o espelho de um país sem fibra, sem a virilidade que precisam ter os povos que buscam a realização dos seus projetos.

O que aconteceu ontem possui ligação com as tragédias dos 3 a 0 que a França impôs na decisão de 10 anos atrás e os 7 a 1 da Alemanha em 2014. Alguém apresenta uma explicação racional para esses apagões? Aliás, não conheço nenhum livro a respeito. A bibliografia sobre a maior diversão do Brasil é espantosamente magra.

A seleção vai se livrar dessa maldição e voltar à era Tite no próximo jogo, ou vai incorporar um país que não tem as qualidades necessárias para, enfim, se tornar um país com grandeza?

Quem souber, que responda.




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